‘Ensinava como quem tem autoridade’

São Marcos conta como, já no início da pregação de Nosso Senhor, “todos se admiravam com o seu ensinamento”. À diferença dos escribas, Ele “ensinava como quem tem autoridade” (Mc 1,22). Mas, afinal, o que conferia “autoridade” a Jesus?

Em primeiro lugar, a autoridade de Cristo decorre de ser Ele o Deus encarnado, a Palavra pela qual o mundo passou a existir. Naquele momento, contudo, o povo ainda não era capaz de reconhecer que Jesus é o Cristo e Filho de Deus. Mesmo assim, a sua autoridade transparecia dos seguintes fatos. 

Jesus não fala em nome próprio, mas em nome do Pai. Os falsos profetas e demônios podem até confessar: “Tu és o Santo de Deus” (Mc 1,24). Porém, o fazem em nome e em proveito próprio, sem mandato divino. Jesus, ao contrário, cumpre estritamente a vontade de Deus Pai. Comunica tudo e somente o que lhe é confiado (cf. Dt 18,18.20), e sem vantagem pessoal.

O Senhor diz a verdade toda, sem mistura de erro. Os demônios e falsos profetas – como lobos vestidos em pele de cordeiro – dizem a verdade, mas a mesclam sutilmente com mentiras. Usam, assim, a Palavra de Deus como uma camuflagem para seus enganos, um condimento para tornar o seu veneno tragável. Afinal, o diabo possui conhecimento aguçado sobre Deus e os homens, mas não tem caridade; ele é “mentiroso e pai da mentira” (Jo 8,44). Por isso, ainda que diga algo correto, Cristo o intima: “Cala-te e sai!” (Mc 1,25). 

Jesus manifesta unidade de vida. Há coerência entre o que ensina e o que pratica. Neste ponto, Ele se distingue dos escribas e dos fariseus. Sobre estes, diria com ironia: “Fazei tudo quanto eles vos disserem, mas não imiteis suas ações, pois dizem mas não fazem” (Mt 23,3). A coerência se manifesta em toda a vida do Senhor! A bondade; a coragem; a compaixão; a justiça; a atenção aos pobres e enfermos; a lealdade a pequenos e grandes, sem acepção de pessoas; a oração contínua; a castidade na ação, no olhar, na fala; a austeridade; a morte em favor das ovelhas (cf. Jo 10,11).

Enfim, a autoridade emana das curas físicas e espirituais que Jesus realiza. Indo ao seu encontro à noite, o fariseu Nicodemos reconheceria: “Ninguém pode fazer os sinais que fazes, se Deus não estiver com Ele” (Jo 3,2). A transformação da água em vinho, a cura de enfermos, leprosos e cegos, a libertação de endemoninhados e tantos outros milagres levariam Pedro a anunciar na casa de Cornélio que Cristo “passou fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo diabo, porque Deus estava com Ele” (At 10,38). 

Ainda hoje, a integridade de vida, a renúncia ao lucro, a penitência e a oração intensas permitem que homens humildes operem, por meio dos sacramentos e sacramentais da Igreja, curas e exorcismos em nome de Jesus. Isso não se dá para o espetáculo, mas em vista da fé e da edificação dos irmãos. E o deslumbramento continua: “Um ensinamento novo é dado com autoridade: Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem!” (Mc 1,27).      

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