‘Ganhaste o teu irmão’ (Mt 18,15)

23º DOMINGO DO TEMPO COMUM 6 DE SETEMBRO DE 2020

O Senhor fala sobre a necessidade da correção fraterna: “Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo em particular, a sós contigo!” (Mt 18,15). Não se trata de “apontar o dedo”; nem de, com ressentimento, jogar as faltas em face; tampouco de ser o “inspetor” da conduta do próximo. Cristo pede que, como decorrência do amor, desejemos sinceramente “ganhar” o irmão, ajudando-lhe a ser melhor. A motivação não é tanto a falta sofrida e seus efeitos, mas principalmente querer o bem espiritual ou corporal do próximo.

Primeiramente, é preciso ver quais faltas merecem ser corrigidas. Quando, por exemplo, os pais não deixam passar um só erro dos filhos, a convivência se torna insuportável e causa prejuízo à sua formação. Se corrigirmos insistentemente hábitos alheios que nos causam antipatia, mas nem sequer constituem pecados ou defeitos relevantes, nos tornaremos odiosos e afastaremos pessoas queridas. O amor exige que, em alguma medida, toleremos defeitos e manias do próximo.

O segundo passo é considerar bem o modo de fazer a correção. A regra é jamais fazê-la quando ainda estamos aborrecidos com a falta cometida. Se estivermos irritados ou indignados, é melhor esperar até que a alma esteja pacificada. Antes de se fazer uma correção, convém rezar pela pessoa e invocar seu anjo da guarda. Em alguns casos, a correção fraterna pode nos custar muito. Temos vergonha, sentimo-nos “sem moral” para fazê-la, ou simplesmente não queremos desagradar ao outro… Por isso, proponho duas situações:

Um homem começa a se desinteressar da vida cotidiana dos filhos; habitualmente avança o expediente de trabalho; não fica a sós com a esposa durante a semana; não brinca com as crianças; está distante dos melhores amigos; e, com outros familiares, é impaciente… E ainda: um padre sempre se atrasa ou se desinteressa dos compromissos pastorais; reza menos e com desleixo; afasta-se dos amigos sacerdotes; busca atividades e bens típicos de leigos; cultiva uma vida excessivamente privada…

Nesses dois exemplos está claro que, antes que algo pior aconteça, vários amigos ou parentes têm a possibilidade de ajudar esses irmãos. Farão isso não por meio de queixas, maledicências ou de denúncias anônimas e ilações maliciosas. Serão instrumentos de Deus se buscarem sincera e desinteressadamente ajudar: perguntando se está tudo bem, fazendo uma visita, oferecendo um café, orações e abrindo o coração. Somos livres e responsáveis por nossos próprios atos; há casos, é verdade, em que não há solução. Quantos desastres familiares e eclesiais, porém, teriam sido evitados por correções fraternas feitas a tempo!

Além disso, temos o dever de aceitar as correções que nos são dirigidas: de dar atenção e ponderar as críticas, ainda se ríspidas; de aceitar humildemente conselhos e repreensões; de tentar sorrir e dizer “obrigado” pela correção recebida. Afinal, a indiferença e o orgulho são perigos mortais para as famílias e para a Igreja. Que Deus nos livre disso?

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