‘Seduziste-me, Senhor!’

22º DOMINGO DO TEMPO COMUM 30 DE AGOSTO DE 2020

Prevendo os sofrimentos de Jeremias, Deus prometeu ao profeta que “lutarão contra ti, mas nada poderão, pois Eu estou contigo” (Jr 1,19). O Senhor tem um desígnio para nós! Ainda que haja dores pelo caminho, Ele não nos abandona! No momento mais duro da prova, porém, as promessas divinas pareciam distantes… Jeremias, então, se lamentou: “Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir” (Jr 20,7).

O sofrimento e a injustiça vêm à nossa vida num momento, de um modo e numa intensidade diferentes do que esperávamos. Ainda que estejamos dispostos a enfrentar adversidades por Deus, os bons propósitos e a confiança são postos à prova. Questionamos, então, o porquê dos acontecimentos; nutrimos um desejo impaciente de justiça; sentimos que a dor é inútil e poderia ser evitada; culpamo-nos; perdemos a paz, achando que as dificuldades nos impedem de viver. Essa luta interior aconteceu a Jeremias, a Jó e a tantos outros!

Diante do mal que não pode ser mudado, há até quem julgue o Senhor, exigindo respostas, e recriminando-O pela injustiça e pela dor dos homens. Esta atitude se difunde numa sociedade cada vez mais soberba e, portanto, incapaz de suportar contrariedades. Outros, por sua vez, tentam dar uma explicação fácil aos sofrimentos concretos: “Acontece por causa disto ou daquilo”; “Com certeza é punição divina”; “Não, Deus não castiga…” Arriscam-se a receber a reprimenda: “Não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens!” (Mt 16,23). Há situações diante das quais podemos apenas aceitar e, com humildade e reverência, silenciar.

A única certeza é que se o Senhor permite um aparente “mal” é porque Ele quer tirar disso um bem maior. É preciso aceitar sem rebelião o desafio de cada dia! Sabendo que passamos por provações e cansaços, o Senhor diz: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24). Não é um convite à resiliência fria: Ele nos manda abraçar a cruz com amor! Na sua Agonia, Paixão e Morte, Cristo sentiu o peso de todos os pecados, injustiças e sofrimentos do mundo. Fez isso para nos salvar e para consolar os que sofrem. Uma vida sem sofrimentos existirá somente no céu! Jesus, contudo, veio dar um sentido aos sofrimentos presentes. Não se trata de “entender o porquê” de tudo, mas de aceitar e de saber que não estamos sozinhos, e que a dor do cristão não é estéril! Aliás, tudo o que nos faz padecer pode ser oferecido por meio Dele como “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm 12,1). Levamos espiritualmente os nossos ais à Santa Missa e os oferecemos por intenções concretas.

“Quem perder sua vida por causa de mim vai encontrá-la” (Mt 16,25). Quem se rebelar contra a dor sofrerá ainda mais e endurecerá. Quem aceitar o que não pode ser mudado nem explicado terá condições de fazer o “milagre da Cruz”. Este consiste em transformar a dor em amor, em humildade, paciência, sabedoria, compreensão e até mesmo em… alegria! Deixemo-nos “seduzir” pela Cruz do Senhor!

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