Nos últimos anos, tem-se assistido a um interesse crescente pela Teologia do Corpo, mas relativamente pouco se entende sobre os seus aspectos sacramentais. “Uma bomba-relógio teológica, prestes a explodir com consequências dramáticas”. Foi assim que o biógrafo papal, George Weigel, descreveu a Teologia do Corpo do Papa João Paulo II.
Esta doutrina teológica foi desenvolvida inicialmente pelo então Padre Karol Wojtyla e mais tarde como Bispo Auxiliar e Arcebispo ganhou consistência. Assim, nos primeiros anos do pontificado, São João Paulo II apresenta à Igreja este projeto por cinco anos (1979-1984), na habitual audiência geral no Vaticano, todas as quartas-feiras.
Já no início da década de 60 do século XX, o então sacerdote Karol Wojtyla demonstrava um grande conhecimento das realidades que afetavam a vida conjugal. Padre Karol tinha uma grande paixão pelas artes teatrais e em 1960 publicou sua primeira peça. Apenas os seus amigos mais próximos sabiam que por trás dessa peça estava um padre, pois a escrita revelava um vasto conhecimento das realidades matrimoniais de uma forma quase empírica. Padre Karol fundou, assim, o seu pensamento na experiência, especialmente no diálogo que manteve com os jovens. Ele tinha um grande interesse pela pastoral familiar e foi pioneiro na Arquidiocese de Cracóvia na criação de um programa de preparação para o casamento. Destacou-se pela forma simples e destemida com que falava do amor humano. Esta orientação espiritual para os jovens casais abriu portas à reflexão e à “compreensão dos nossos corpos à luz do plano divino, rejeitado pelo homem, restaurado por Cristo e proclamado pela Igreja”. Durante as suas conversas com rapazes e moças, ele descobriu que as questões mais urgentes não tinham a ver com a existência de Deus ou com a relevância da Igreja; “apesar da implacável propaganda comunista e das intimidações, eles eram crentes. Suas questões mais urgentes envolviam amor, casamento e família”.
Mas será esta forma de olhar para o corpo uma contracorrente da doutrina católica? Pelo contrário: veio antes dar-lhe um novo rosto, respondendo às exigências do mundo contemporâneo nos debates sobre Deus e o “porquê” da existência do homem.
Quando vemos a Teologia abordando o corpo, isso pode nos parecer muito estranho, pois o seu campo de estudo não é o corpo em si, mas, sim, ,Deus. O estudo do corpo parece ser algo mais próprio da Biologia, da Medicina etc. Porém, quando a Teologia estuda o homem, é preciso perceber também as suas dimensões corpóreas e somáticas. A Palavra de Deus não se fez carne? Não fomos redimidos pelo Filho de Deus feito carne?
É precisamente neste ponto que a reflexão sobre o texto do Gênesis é insubstituível. É realmente o “começo” da Teologia do Corpo. O fato de a Teologia compreender também o corpo não deve surpreender quem tem consciência do mistério e da realidade da Encarnação. Como resultado da Palavra de Deus que se fez carne, o corpo humano entrou pela porta principal da Teologia. No seu livro “Sexualidade Segundo João Paulo II”, Yves Semen aborda a questão da dualidade “corpo-espírito”.
“Aqui encontramos a herança da filosofia platônica, que considera o corpo uma prisão da alma, e que dele devemos libertar-nos para redescobrir a pureza da essência humana, que é espiritual”. Semen diz claramente que estamos perante um mistério e não um problema em si. Como compreender este mistério da rebelião do corpo contra o espírito e vice-versa? Continuaremos nossa reflexão num próximo artigo.