O tempo da pandemia nos colocou mais reflexivos. Isso é muito importante. Precisamos aproveitar todos os instantes que a vida nos possibilita. O momento presente nos faz lembrar o passado e projetar o futuro. Deus é presente em todos os tempos. Nós necessitamos exercitar constantemente os variados tempos: passado, presente e futuro. De fato, nós somos uma continuidade. Somente o passado, é saudosismo. Somente o presente, esquecemos que temos história. Somente o futuro, esquecemos de lembrar o ontem e de viver o agora.
Enquanto eu estou no presente e preparando minhas atividades e exercendo minha ocupação, eu projeto o meu futuro. É fundamental ter propostas e mirar o porvir. Na verdade, é necessário nos alimentar de sonhos e almejar metas. Não podemos e não devemos nos colocar estáticos. Isso nos paralisa e nos enfraquece. Colocar o nosso corpo todo em ação nos alimenta para a vida.
Particularmente, hoje, quero fazer um passeio pelo meu passado. Afinal, recordar, também, é viver. Duas datas me vêm à mente. Dois momentos significativos invadem o meu querer e o meu pensar. Eu quero tornar marcante o ano de 1896. Eu penso no significado do ano de 1936. O ano de 1896 me faz lembrar os 125 anos da chegada da Família Leva ao estado de São Paulo. Vindos da Itália, Província do Piemonte, eles aportaram em Santos (SP). O ano de 1936 me faz recordar os 85 anos em que os meus avós maternos, Barlafante Zechinel, construíram uma capela em honra a Nossa Senhora do Monte Serrat, na Fazenda Santa Giselda, no município de Monte Alto (SP). No dia 15 de novembro de 1936, por ocasião de uma grande estiagem, houve uma Santa Missa. Logo em seguida, recitaram o Rosário, clamando aos céus, a chuva necessária para a lavoura do café.
A construção da nossa personalidade é constituída pela genética que herdamos dos nossos pais e dos nossos antepassados. Precisamos preservar a lembrança e o carinho pelos nossos entes queridos falecidos. Necessitamos manter os laços de afeto e amor das gerações que formam as nossas famílias.
Em tempos pandêmicos, nós podemos recordar e projetar. Assim, no presente da História, eu recordo os meus antepassados e, ao mesmo tempo, eu projeto o meu porvir com firmeza e seguridade. Posso utilizar esse recurso, dos três tempos: passado, presente e futuro, para eu recordar os meus entes queridos, para eu me manter vivo e para eu me mover com confiança para dias melhores que, certamente, virão.
Eu sempre me lembro, com carinho e saudade, dos meus que já se foram para a eternidade. Precisamos diferenciar a nostalgia do saudosismo. Nostalgia é lembrar e por eles rezar. Permanecer no saudosismo, torna-se um campo perigoso, porque nos faz permanecer sempre no passado. Finados é tempo de recordar e rezar.
Eu procuro recordar e escrever os fatos e acontecimentos da Família. Se eu não preservo a memória, ela se perde. Uma família sem valoração da sua história se torna mais difícil escrever e viver o presente e almejar o seu futuro.
Como disse, o tempo pandêmico nos coloca reflexivos. Como projetar um mundo melhor, com segurança, trabalho, estudo, e todos os ingredientes necessários para o bem-estar dos nossos familiares e amigos? Como lembrar os nossos entes queridos falecidos? Tempo de saudade! Eu faço memória dos 125 anos da chegada dos Leva e tornando presença os 85 anos das festividades em honra de Nossa Senhora do Monte Serrat, celebrada em novembro de 2021, pelos Barlafante Zechinel, eu me fortaleço do meu passado e me lanço para o futuro, com esperança e alegria redobradas.
Que você também, caro leitor, tenha muitas memórias que o fortaleçam e o ajudem a projetar um futuro melhor.
Padre José Ulisses Leva é professor de História da Igreja na PUC-SP.
Obrigado Professor Padre Ulisses por nos dar o exemplo e nos ajudar a valorizar nossas origens, nossas raízes. Valorizar inclusive a fé que nos foi transmitida: rezar para que chovesse. meus avós maternos também vieram da Itália para a lavoura de café.