‘Não descobrimos a verdade apenas recebendo a informação de terceiros’

Manuela Castro, jornalista da TV Brasil e assessora de comunicação da CNBB, é a primeira entrevistada na série do O SÃO PAULO e da rádio 9 de Julho sobre o 55o Dia Mundial das Comunicações Sociais

Arquivo pessoal

“Vem e verás” (Jo 1,46) e “Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são” são, respectivamente, o tema e o lema com os quais o Papa Francisco convida os comunicadores a refletir sobre a própria profissão e missão na sociedade, por ocasião do 55o Dia Mundial das Comunicações Sociais, celebrado no Domingo da Ascenção do Senhor, 16 de maio.

Ir às realidades e vê-las como os próprios olhos é algo insubstituível para o bom exercício do jornalismo, como ressalta o Pontífice na mensagem para a data, publicada em 23 de janeiro deste ano.

Uma das frases emblemáticas do Pontífice no texto é a de que o jornalista precisa “gastar a sola dos sapatos”, a fim de encontrar as pessoas, procurar histórias e verificar informações.

É o que tem feito ao longo de toda a carreira a jornalista Manuela Castro, repórter e apresentadora da TV Brasil, e que desde o ano passado também é assessora de comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ela também é autora do livro “A praga: O holocausto da hanseníase. Histórias emocionantes de isolamento, morte e vida nos leprosários do Brasil”, lançado em 2017.

Manuela é a primeira entrevistada em uma série do O SÃO PAULO e da rádio 9 de Julho sobre como os jornalistas buscam exercer a profissão em contato com as diferentes realidades, como ressaltado na mensagem do Papa para o 55o Dia Mundial das Comunicações Sociais.

OUÇA A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA

Leia a seguir alguns tópicos da entrevista, concedida por Manuela Castro à jornalista Cleide Barbosa, da rádio 9 de Julho.

A realidade oculta dos leprosários

Arquivo pessoal

“Na alegria de ser jornalista, descobrimos muitas histórias e algumas coisas que, muitas vezes, são bastante veladas, como é o caso da hanseníase no Brasil. Eu me assustei ao saber que existiram leprosários no Brasil até 1986”, afirmou. “É uma história-tabu no Brasil ainda. Quando eu lancei o livro [A praga], muitas pessoas me procuraram e disseram ter casos com hanseníase na família, mas que até hoje não querem falar deste assunto”, recordou, destacando que essa doença atualmente tem tratamento na rede pública de Saúde, mas o estigma faz com que muitos não busquem por ajuda médica.

Nada substitui ver com os próprios olhos

“Com essa pandemia, vivemos um grandíssimo desafio, pois temos a dificuldade do contato, do ir até as pessoas. E sentimos falta. Ao longo da minha carreira, eu sempre sai muito da redação. É o que o Papa, na mensagem, nos chama a fazer: ir ao encontro das pessoas, não ser um jornalista sentado numa cadeira, fazendo tudo do computador. Neste momento, há limitações por causa da pandemia. Sinto muita falta desse contato com as pessoas. Não descobrimos a verdade apenas recebendo a informação de terceiros. Não dá para fazermos um jornalismo de balcão. Precisamos saber o que está acontecendo com o outro”.

Um convite à reflexão

“Todo o jornalista tem a obrigação de pensar um pouco sobre isto: ‘o que eu estou fazendo para dar voz a quem tem pouca voz? Será que eu só dou voz para as mesmas pessoas sempre?’ […] Este é um serviço do jornalismo. É preciso ter um objetivo. Quando você conta a história que descobriu, isso vai trazer um benefício para diversas pessoas: diretamente para aquelas envolvidas, mas, também, para os leitores, telespectadores, ouvintes”.

A comunicação na CNBB

Manuela conta que os trabalhos na assessoria de comunicação da CNBB têm permitido que conheça as diferentes realidades das pessoas no Brasil, histórias que, por vezes, não estão pautadas nos noticiários, como os trabalhos diversos que a Igreja realiza e que ajudam a salvar vidas.

“As pessoas estão sedentas para contar suas histórias e na CNBB temos essa função de agregar todas as notícias dessas ações”, disse, destacando de modo especial as iniciativas que envolvem a campanha “É tempo de cuidar”.

Edição do texto: Daniel Gomes/O SÃO PAULO

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