As lições dos que viveram as virtudes cristãs no dia a dia

Os leigos, exercendo os ofícios que lhes são próprios no cotidiano, podem favorecer “a santificação do mundo a partir de dentro, como o fermento, e, deste modo, manifestar Cristo aos outros, antes de tudo pelo testemunho da própria vida, pela irradiação da sua fé, esperança e caridade”, aponta a constituição dogmática Lumen gentium (LG, 31).

Ao longo da história, muitos leigos viveram cotidianamente as virtudes cristãs e alguns deles alcançaram o reconhecimento da Igreja como santos e beatos.

Beato Pier Giorgio Frassati: Ele fez da caridade a sua razão de existir, alimentada diariamente pela Eu- caristia e a vivência da Palavra de Deus. Com 17 anos, ingressou na Sociedade de São Vicente de Paulo, dedicando seu tempo aos doentes e necessitados. Seu estilo de vida foi sempre questionado pelo pai, Alfredo Frassati. Pier Giorgio morreu em 4 de julho de 1925, aos 24 anos, e para a surpresa de seus familiares, muitos dos que ele ajudava foram ao seu enterro. Foi a partir dos testemunhos que ouviu sobre o filho que Alfredo passou a ter uma vida alicerçada na espiritualidade cristã e nas obras de misericórdia. Pier Giorgio Frassati foi beatificado por São João Paulo II em 1990.

Beata Guadalupe Ortiz de Landázuri: Ela transmitia otimismo por seu sorriso, era compreensiva com o próximo e constantemente estava em adoração diante do Santíssimo. Nascida em Madri, na Espanha, em 1916, formou-se em Ciências Químicas. Em 1944, encontrou-se pela primeira vez com o fundador do Opus Dei, São Josemaría Escrivá. Em 1950, a pedido dele, Guadalupe mudou-se para o México, onde fundou uma residência universitária para jovens, na qual lhes abria horizontes para o serviço à Igreja e à sociedade. Voltou a Roma em 1956 para colaborar com a administração do Opus Dei. Com uma cardiopatia, regressou à Espanha. Morreu em 16 de julho de 1975 e foi beatificada em maio de 2019.

Beato Antônio Frederico Ozanam: As precárias condições de vida dos mais pobres de Paris nos anos 1830 inquietavam o coração deste jovem que chegara de Lyon, também na França. De família católica, uniu-se a jovens que professavam a fé cristã e, em 1833, com o desejo de “abraçar o mundo numa rede de caridade”, foi um dos fundadores da Sociedade de São Vicente de Paulo, para visitas às famílias carentes e cultivo da espiritualidade cristã. Faleceu em 8 de setembro de 1853, aos 40 anos, e foi beatificado em 1997 por São João Paulo II.

Beato Rosario Livatino: “Que Deus esteja comigo e me ajude a respeitar o juramento e a me comportar como a educação que os meus pais me deram exige”. Esta frase foi encontrada nos arquivos pessoais do juiz italiano Rosario Livatino. Em sua carreira, combateu a corrupção de modo implacável. Ele foi assassinado pela máfia siciliana em 21 de setembro de 1990, aos 38 anos, e conta-se que perdoou aos assassinos antes de morrer. Declarado “mártir do ódio à fé”, foi beatificado em maio deste ano.

São José Moscati: Desde que recebeu a primeira Comunhão aos 8 anos, ele comungava quase que diariamente. Formado em Medicina, tornou-se famoso por seus diagnósticos precisos, que atribuía à prática da oração e participação nos sacramentos. Por décadas, atuou em um hospital com pacientes considerados incuráveis e atendia gratuitamente pessoas mais pobres em seu consultório. Em 12 de abril de 1927, faleceu em Nápoles, na Itália, após um ataque cardíaco. Foi beatificado por São Paulo VI em 1975 e canonizado em 1987 por São João Paulo II.

Beato Carlo Acutis: Em sua curta vida, difundiu a fé católica por meio da internet e um dos sites que criou foi para divulgar os milagres eucarísticos em diferentes lugares. Ele frequentava a missa diariamente e era comum vê-lo por longo tempo em oração diante do sacrário. Carlo Acutis morreu aos 15 anos, em 2006, em decorrência de uma leucemia. Foi beatificado em outubro de 2020. O site com os milagres eucarísticos catalogados pode ser visto neste link: https://cutt.ly/YQ0fQ5Z.

O apostolado leigo no cotidiano do trabalho

Papa Francisco com médicos e enfermeiros do Hospital Bambino Gesú (foto: Vatican Media/Arquivo)

Assim como seus predecessores, o Papa Francisco já recebeu em audiência muitos representantes de categorias profissionais e lhes falou sobre como testemunhar a vida cristã no exercício de suas funções na sociedade. Leia a seguir, alguns dos discursos do Pontífice.

Às pessoas com cargos públicos

Sois chamados a pôr à disposição o vosso profissionalismo e a vossa humanidade, os vossos conhecimentos e a vossa prudência, sem desânimos nem pessimismos, contudo conscientes de que não vos deveis confrontar com assuntos abstratos, mas com o rosto concreto de homens e mulheres, com os seus respectivos problemas e esperanças. (Aos prefeitos de várias cidades da Itália – 06/02/2015)

Aos magistrados

O vosso compromisso na apuração da realidade dos fatos, mesmo se for dificultado pela quantidade de trabalho que vos é confiada, seja, contudo, sempre pontual, referido com exatidão, baseado num estudo aprofundado e num esforço contínuo de atualização. Ele saberá servir-se do diálogo com os diversos saberes extrajurídicos, a fim de compreender melhor as mudanças em curso na sociedade e na vida das pessoas. (À Associação Nacional de Magistrados da Itália – 09/02/2019)

Aos professores, educadores e dirigentes de escolas

Numa sociedade que tem dificuldade de encontrar pontos de referência, é necessário que os jovens encontrem na escola uma referência positiva. E ela só pode sê-lo ou tornar-se tal se no interior houver professores capazes de dar um sentido à escola, ao estudo e à cultura, sem reduzir tudo unicamente à transmissão de conhecimentos técnicos, mas apostando na construção de uma relação educativa com cada um dos estudantes. (À União Católica Italiana de Professores, Dirigentes, Educadores e Formadores – 14/03/2015)

Aos empresários

A empresa e o gabinete dos dirigentes das empresas podem tornar-se lugares de santificação, mediante o compromisso de cada um de construir relações fraternas entre empresários, dirigentes e trabalhadores, favorecendo a corresponsabilidade e a colaboração no interesse comum. É decisivo ter uma atenção especial pela qualidade da vida laboral dos funcionários, que são o recurso mais precioso de uma empresa; em particular, para favorecer a harmonização entre trabalho e família. (À União Cristã de Empresários Dirigentes – 31/10/2015)

Aos profissionais da área da saúde

[A doença] é sempre a condição de uma pessoa, o doente, e é com esta visão inteiramente humana que os médicos são chamados a relacionar-se com o doente: considerando, portanto, a sua singularidade como pessoa que tem uma doença, e não apenas o caso de qual doença sofre essa pessoa […] Com esta atitude, podemos e devemos rejeitar a tentação – também induzida por alterações legislativas – de utilizar a Medicina para apoiar uma eventual vontade que o doente tenha de morrer, prestando assistência ao suicídio ou causando diretamente a sua morte mediante a eutanásia. (À Federação Nacional da Ordem dos Médicos Cirurgiões e Dentistas da Itália – 20/09/2019)

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