México: um sacerdote-jornalista contra a criminalidade

Comprometido há anos em denunciar os delitos do crime organizado, Padre Sérgio Omar Sotelo Aguilar dirige o Centro Católico Multimídia, através do qual também luta contra a violência, que envolve a Igreja de modo despercebido: “o meu país tornou-se um dos mais perigosos para o ministério sacerdotal”.

Padre Sérgio Omar entrevistando/Vatican Media

“Sacerdócio e jornalismo têm dimensões de afinidade, ambos comprometidos em proclamar a verdade, lembrando que a própria verdade nos torna livres. Por isso, quando trabalho como sacerdote, busco obter impacto midiático com o jornalismo; quando atuo como jornalista, busco profetizar com a força do sacerdócio que salva, consola e redime”. É o que afirma Padre Sérgio Omar Sotelo Aguilar que, certamente, não optou por duas missões fáceis. Ser jornalista ou sacerdote no México significa correr um grande risco, às vezes, até a própria vida. Imaginemos que ambas as missões sejam perfeitas, com o acréscimo de assumir o compromisso vinculativo de denunciar todas as irregularidades do crime organizado, que levaram o país latino-americano ao 126º lugar no ranking das 180 nações mais corruptas do mundo.

Na mira

Sacerdote da Sociedade de São Paulo – fundada pelo Beato Giacomo Alberione, que fez da união entre o Evangelho e a informação um carisma único e precioso – Padre Sérgio formou-se em comunicação e jornalismo, tornando-se pesquisador, produtor e escritor. Ele começou a ser alvo de cartéis criminosos quando, há mais de vinte anos, fundou o Centro Multimídia Católico e a Agência de Comunicação Multimídia, que agora dirige com grande abnegação e desconsideração dos perigos.

Contra o silêncio e a inércia

Em entrevista aos meios de comunicação vaticanos, ele confessa que seus principais inimigos são o silêncio e a inércia, que permitem ao crime crescer e prosperar: “Manter em silêncio as comunidades e os lugares, onde se comete o crime, significa difundir o medo, útil para implementar a cultura, a economia e a política dos narcotraficantes. Agora, mais do que nunca, é preciso desvendar o impacto nocivo da criminalidade organizada, com todos os meios possíveis, na tentativa de combatê-la e erradicá-la”.

Sangue, vítimas e sicários

Os curtas-metragens da série “Hermano Narco”, que falam da vida, violência e segredos dos traficantes de drogas e contam histórias sangrentas de vítimas e assassinatos, lhe conferiram o prestigioso prêmio nacional de jornalismo, em 2017, mas também constantes ameaças de traficantes agressivos, como ele mesmo diz: “Alguns demonstraram sua insatisfação com o nosso trabalho. Por isso, passei por graves perseguições e intimidações, que até me preocuparam. No entanto, vale a pena prosseguir nesta missão, que prossigo com muita fé e alegria, trabalhando enquanto Deus me permitir”.

Igreja envolvida

Além do sacerdote, também a equipe, composta por 4 jornalistas, que trabalham no Centro multimídia, também foi alvo de ataques, por ter acendido os holofotes, não apenas sobre o tráfico de drogas, mas também sobre a violência que vem afetando a Igreja nos últimos anos, como declara ainda o Padre Sérgio: “Tentamos denunciar a terrível chaga do crime organizado contra sacerdotes e instituições eclesiásticas. Há quase 15 anos, nosso trabalho é valorizado por diversas organizações nacionais e internacionais, que afirmam que o grave problema da violência em nosso país faz do México uma das nações mais perigosas para o ministério sacerdotal”.

Missão básica

Se verificarmos os números sobre o trabalho feito até agora pelo “Centro Católico Multimídia”, ficaríamos surpresos: mais de 100.000 artigos, editoriais, reportagens e notícias. Tudo isso sem perder de vista a nossa missão básica e o critério editorial sólido e profundo: encaramos a realidade com uma visão católica, dando espaço e importância às análises dos fenômenos sociais e culturais, que envolvem a vida da Igreja. Eis um dos motivos de orgulho para o Padre Sérgio Omar Sotelo Aguilar: “Estou ciente de que a Igreja deve ser uma fonte e não objeto de informação. Isso que me levou a criar uma plataforma multimídia capaz de informar, com veracidade, toda a sociedade sobre os fatos que lhe dizem respeito”.

Denunciar sempre

O sacerdote e a sua equipe não temem o fato de que, no México, de 2018 a 2024, cerca de 50 jornalistas morreram, enquanto inúmeros outros foram intimidados e calados. Não causa menos preocupação também o fato de que, nos últimos anos, a difusão do tráfico de drogas tenha aumentado de modo desproporcionado, assim como o crime organizado em geral. Armas, dinheiro, táticas militares, para treinar assassinos, e a corrupção generalizada fizeram dos clãs da máfia mexicana uma entidade poderosa e destruidora, mas não invencível: “Eis porque meu desejo de ser uma voz não pode falhar pelos que não têm voz. Devo continuar a denunciar as injustiças de forma cada vez mais comprometedora e profunda, como faz a Igreja. De fato, aqui, ela desempenha um papel decisivo na pacificação, adotando estratégias eficazes como o diálogo e os programas de ajuda às vítimas da violência: recursos inestimáveis ​​para ajudar a erradicar esta chaga”.

Fonte: Vatican News

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