Programa ‘Acolhe Brasil’, iniciado por jesuítas em 2018 para acolher migrantes venezuelanos, amplia ações em favor de ucranianos e afegãos; ‘Frente Brazucra’ auxilia refugiados ucranianos

O fluxo de refugiados por causa da invasão de tropas russas na Ucrânia é constante. Diante dessa realidade, a Igreja e diversas organizações da sociedade civil têm viabilizado iniciativas efetivas para o atendimento dos migrantes.
Aqui no Brasil, por meio do programa “Acolhe Brasil”, o Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR) está mobi- lizando uma rede nacional de famílias, pessoas, comunidades, grupos e coletivos que tenham interesse e disponibilidade para a acolhida de famílias ucrania- nas e afegãs.
Na Europa, o projeto “Frente Brazucra”, liderado por brasileiros, une forças para tirar brasileiros das áreas de conflito e, também, para acolher refugia- dos ucranianos nos países como Polônia, Hungria e Bélgica.
SERVIÇO JESUÍTA AOS REFUGIADOS
O programa “Acolhe Brasil” surgiu em 2018 para apoiar a interiorização de migrantes e solicitantes de refúgio venezuelanos. Com o conflito na Ucrânia, a iniciativa avançou para uma nova fase, a fim de favorecer a acolhida de ucranianos, mas também de afegãos no Brasil.
O SJMR está presente em Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC), Salvador (BA), Belo Horizonte (MG), Manaus (AM), Boa Vista (RR) e Brasília (DF), onde se localiza o escritório nacional. No mundo, está em mais de 50 países, funcionando como um centro de acolhida e atendimentos gratuitos à população migrante e refugiada.
Padre Agnaldo Pereira de Oliveira Júnior, Diretor nacional do SJMR Brasil, destacou que o projeto tem como missão “pro- mover e proteger a dignidade e os direitos de migrantes e refugiados vulneráveis no Brasil, acompanhando seu processo de inclusão e autonomia, incidindo na sociedade e no poder público para que reconheçam a riqueza da diversidade humana”. O SJMR Brasil está procurando e mapeando espaços de acolhida com parceiros e locais em condições dignas para o acolhimento.
“O programa ‘Acolhe Brasil – Ucrânia e Afeganistão’ irá oferecer todo o suporte necessário para que essas pessoas migrantes recomecem suas vidas aqui no Brasil. É fundamental que desde o primeiro momento do interesse da acolhida desses refugiados seja planejado um cuidado integral dessas famílias, com a proposta de auxiliá-los na integração socioeconômica e cultural no País”, ressaltou o Sacerdote jesuíta.
A acolhida será por até três meses. Aos refugiados, será ofertado um curso de português, e, às famílias ou comunidades, um certificado de “espaço de hospitalidade”.
Essa é uma fase do projeto que tem como objetivo manifestar a fraternidade e a acolhida para com os irmãos que sofrem a triste realidade de ter de abandonar tudo para recomeçar a vida em um lugar. “Com o projeto, queremos manifestar uma hospitalidade fraterna, solidária e expressão concreta de que somos uma só família humana”, disse o Sacerdote, reverberando os constantes apelos do Papa Francisco de acolher aqueles que sofrem.
Padre Agnaldo enfatizou ainda que, aos poucos, algumas famílias e o poder público estão se voluntariando e abrindo portas para a acolhida. “Por exemplo, no Rio Grande do Sul, um senhor disponibilizou uma de suas propriedades para o projeto efetivar o acolhimento”, contou.
Interessados em acolher famílias ucranianas e afegãs devem preencher um cadastro por meio do link.

REDE DE SOLIDARIEDADE
A brasileira Clara Magalhães Martins, 31, mestra em Direito Internacional e estudante de MBA na cidade de Leipzig, na região leste da Alemanha, criou o grupo “Frente Brazucra”, para ajudar, num primeiro momento, a resgatar brasileiros das áreas atingidas pela guerra.
O projeto que une as iniciais dos dois países (Brasil e Ucrânia) começou com um grupo no Telegram para identificar brasileiros que queriam fugir das áreas de conflito e por vários motivos não estavam conseguindo.
Numa primeira ação, Clara alugou um carro e foi até a cidade de Medyka, na Polônia. De lá, chegou à Ucrânia para levar mantimentos e fazer o resgate de três brasileiros, uma ucraniana e um nigeriano.
Em entrevista ao O SÃO PAULO, a idealizadora da organização sem fins lucrativos ressaltou que quando começou o projeto, nos primeiros dias do ataque da Rússia à Ucrânia, a maioria dos contatos que solicitaram resgate era brasileiros. Mas recebiam, também, pedidos para levar amigos de outras nacionalidades – árabes, portugueses e ucranianos.
A estudante recordou o primeiro resgate. Ela desenhou uma bandeira do Brasil em um pedaço de papelão para identificação. “Coloquei nossa bandeira no carro e entrei na Ucrânia, e consegui resgatar três brasileiros e saí pela fronteira com a Hungria”, disse, ressaltando que o projeto já resgatou mais de cem pessoas.
A ação, que surgiu inicialmente como forma de ajudar os brasileiros com transporte e abrigo, ultrapassou nacionalidades. A “Frente Brazucra” atua também com a distribuição de alimentos, cestas básicas, marmitas, remédios e roupas às pessoas que estão na fronteira em busca de refúgio.
Com a voluntária, centenas de brasileiros se mobilizam por meio das redes sociais em um grupo que está mapeando a localização de quem ainda se encontra na Ucrânia e precisa de ajuda para sair.
“Eu atravessei a fronteira e encontrei grupos de inúmeras nacionalidades sem apoio. Muitas mulheres, crianças, famílias sendo separadas. Mães e pais implorando pra que eu os levasse no carro embora”, conta Clara, reforçando que “muitas pessoas estão oferecendo hospedagem na Polônia, Romênia, Hungria, Eslováquia, Alemanha, entre outros países”.
O projeto está mobilizando famílias brasileiras para acolher os refugiados da Ucrânia. “Estamos, nesse primeiro momento, mapeando quem pode acolher e, também, viabilizando o deslocamento dessas pessoas para o Brasil. Para o projeto acontecer, dependemos de doações e da solidariedade de todos”, finalizou.
O grupo auxilia em rotas de fuga, abrigos e tudo o mais que puder, na página do Instagram, realiza ‘vaquinhas’ e rifas para obter ajuda financeira para dar continuidade às ações.
