Testemunhos de violência de uma guerra sangrenta e ignorada pela comunidade internacional na província de Tigray, ao norte do país africano
De acordo com a Avvenire, agência de notícias ligada à Conferência Episcopal Italiana (CEI), fontes religiosas de Tigray, no norte da Etiópia, relatam casos extremos de violação de direitos humanos na região do país africano. Meninas de oito anos e mulheres idosas são violentadas por tropas da Etiópia e da Eritreia na frente de seus parentes, crianças são atingidas por tiros no peito em ruas movimentadas enquanto os cadáveres são deixados para alimentar as hienas.
O conflito começou em novembro de 2020, após o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2019, acusar os governantes da região de Tigray de terem atacado duas bases militares. Logo após o pronunciamento, Ahmed iniciou uma ofensiva contra a localidade.
A região é governada pela Frente de Libertação do Povo Tigray (FLPT), partido nacionalista que há meses vinha se rebelando contra o Executivo central da Etiópia, o segundo país mais populoso da África.
As tensões entre o governo federal e a região do Tigray já estavam acirradas, mas as hostilidades ocorridas ao longo do mês de novembro alimentaram a possibilidade de uma guerra civil.
Desde então vêm ocorrendo confrontos armados entre os dois lados, com ataques aéreos realizados pelo Exército federal.
Deslocados
Em poucos meses, o Tigray retrocedeu 40 anos, quando o regime marxista de Derg causou a fome que ficou famosa em todo o mundo. De acordo com a ONU, pelo menos 5,2 milhões de pessoas precisam de assistência e até 3 de maio, apenas cerca de 350 mil foram atendidas. Dezenas de milhares de pessoas deslocadas pelos combates continuam a ser despejadas em campos nas periferias de cidades como a capital Macalle, Shire, Axum e Adua, que estão, portanto, em colapso.
Da Macallè, a ONG etíope Shadaida, que acolhe 3,8 mil deslocados em nome da ONU, confirma a falta de água, alimentos e medicamentos. Anestésicos, reagentes químicos e desinfetantes são difíceis de encontrar nos hospitais da região que escaparam da destruição.
Situação desumana
Uma religiosa etíope, não identificada por motivos de segurança, denunciou ao jornal britânico The Guardian que “é negada aos mortos a dignidade do sepultamento, ficando os corpos para alimentar as hienas”. Enquanto os estupros “não poupam nem mesmo meninas de oito anos ou idosas” e ocorrem em toda parte. Para a freira, os principais responsáveis pelas atrocidades são as forças da Etiópia e da Eritreia.
Outras fontes religiosas também confirmam que meninas de até 12 anos foram estupradas por soldados eritreus, muitas vezes em uniformes etíopes e reconhecidos pelo sotaque. Meninos são baleados na rua: um teve a perna amputada por tiros disparados por eritreus em um vilarejo próximo à Adua. A mídia, agências e ONGs relatam repetidos abusos e violações dos direitos humanos. O correspondente do The New York Times teve sua autorização de trabalho retirada.
Comunidade internacional
Enquanto isso, os Estados Unidos expressaram profunda preocupação com a crescente polarização étnica e política na Etiópia, onde as eleições de 5 de junho foram adiadas por tempo indeterminado.
Após o retorno do enviado especial ao Chifre da África, Jeffrey Feltman, Washington declarou que trabalhará com os aliados por um cessar-fogo e para processar aqueles que violaram os direitos humanos. Feltman informou que pediu ao presidente da Eritreia, Isaias Afewerki, para retirar imediatamente os soldados do Tigray. A União Europeia também fez o mesmo pedido novamente, recordando que a utilização da ajuda como arma de guerra é um crime internacional.
(Com informações de Avvenire e ONU News)