Tom Corcoran: ‘Ater-se à missão de fazer discípulos é fundamental para a revitalização das paróquias’

Em 1997, na Paróquia da Natividade, em Baltimore, estado de Maryland, nos Estados Unidos, um jovem de 23 anos sentia-se insatisfeito com a realidade paroquial da comunidade em que vivia. Decidido a revolucioná-la, Tom Corcoran, hoje com 50 anos, casado, pai de oito filhos e frequentador dessa mesma Paróquia há 27 anos, uniu-se ao pároco da época – continua como assistente do atual – e deu vida a um plano de revitalização da vida pastoral, que ganhou notoriedade pelos resultados positivos que vem obtendo em paróquias dos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Irlanda, Alemanha, Espanha, entre outros países. De passagem por São Paulo no fim do ano passado, ele concedeu esta entrevista ao O SÃO PAULO, na qual explica os pilares que tornaram esse projeto tão eficaz. 

O SÃO PAULO: Qual era a realidade da sua paróquia na década de 1990 que o levou a buscar uma mudança? 

Tom Corcoran: Comecei a trabalhar com jovens de várias faixas etárias e percebia que, ainda que me dedicasse muito, nada parecia mudar, ou seja, havia um excesso de atividades na paróquia que, no fundo, não surtia o efeito esperado de levar as pessoas a terem uma experiência com Deus e se engajarem. Então, li um livro chamado Purpose Driven Youth Ministry [Ministério Jovem com Propósito Direcionado, em tradução livre], de um autor que, embora não fosse católico, acendeu uma lâmpada em mim. Percebi que não entendia o meu propósito de estar ali, e também não tinha uma estratégia sobre o porquê de fazer o que fazia, porque a própria paróquia não tinha isso. Então, aqueles que trabalhavam comigo e eu sentimo-nos impelidos a empreender uma jornada para aprender com outras igrejas e, assim, nos tornarmos mais intencionais sobre nossa própria estratégia e o que estávamos fazendo. Daí nasceu o nosso livro Rebuild (Reconstruir), que narra o que aconteceu em nossa paróquia, toda a experiência de crescimento e renovação e, nos últimos anos, demos início a uma organizacão chamada Rebuilt Parish (Paróquia Reconstruída), que ajuda as paróquias a crescer e se renovar, com base na experiência que vivemos. 

É possível estabelecer as razões pelas quais algumas paróquias experimentam declínio e falta de fiéis? Há um fator comum ou é preciso olhar caso a caso? 

Acredito que há algumas razões comuns, sim. Quero dizer, acredito que muitas vezes é uma perda de visão sobre para onde estamos indo e o que queremos realizar. Pode se tornar uma perda de missão, de esquecer por que fazemos o que fazemos, de perder nosso caminho. Se esquecermos por que existimos, que é fazer discípulos, seguramente nos perderemos. Sempre há a necessidade da renovação. Há coisas nas quais precisamos nos concentrar, mas também precisamos estar dispostos a olhar para elas de forma renovada ou sob uma nova luz. Então acho que esse é o motivo, ou ao menos parte dele, pelo qual as paróquias ficam obsoletas ou param de crescer. 

E quais são os fundamentos para se empreender uma real mudança nas paróquias? 

Baseado na experiência vivida em nossa paróquia, percebemos que há quatro estratégias que são consideradas essenciais e que, se aplicadas, tendem a surtir efeitos positivos. Primeiro, a paróquia deve criar uma experiência excelente do fim de semana, isto é, a missa ou qualquer atividade em torno dela no fim de semana é crucial para alcançar as pessoas, pois essa é a experiência que a maioria delas tem na igreja. 

Segundo, as paróquias crescem mais ao alcançar a comunidade no seu entorno. É preciso descobrir as pessoas que não estão indo à igreja e alcançá-las, estabelecendo uma forma de falar com elas, compreendendo suas motivações e criando um ambiente acolhedor. 

Terceiro, as paróquias crescem mais profundamente quando são capazes de oferecer um caminho claro de discipulado, para que as pessoas vejam uma direção a seguir, aprofundem sua fé e fortaleçam seu relacionamento com Cristo. 

E, enfim, em quarto lugar, é preciso que a paróquia crie lideranças, as quais possam sustentar as iniciativas que surgirem e organizar os voluntários. Embora seja fundamental a figura do padre, é necessário que haja pessoas a gerir as diversas atividades, a fim de ajudá-lo a concretizar os objetivos traçados. 

Dado que o que acontece aos sábados e domingos nas paróquias é essencial, em que consiste, de fato, a “experiência do fim de semana” mencionada anteriormente? 

Esta experiência do fim de semana se traduz em diversos aspectos como hospitalidade, ambiente e comunicação. 

Hospitalidade é um pilar relevante. É preciso que haja pessoas que acolham bem os fiéis quando estes chegam, que se preocupem com seu bem-estar enquanto estiverem na paróquia, que façam com que todos se sintam bem-vindos. No nosso caso, além de isso acontecer na porta de entrada, temos também pessoas de apoio no estacionamento, oferecemos café depois da missa, estamos abertos para acolher aqueles que desejam ter uma conversa ou esclarecer uma dúvida, entre outras atenções. 

Um ambiente limpo e organizado conta pontos valiosos. Um sistema de som que permita audição clara do que é dito é inegociável e, claro, a música litúrgica precisa ser executada com habilidade, capacidade e adequação, algo que ainda não acontece em muitas comunidades. A música precisa inspirar as pessoas ao seguimento de Cristo e à integração na comunidade. 

E, por fim, é preciso ser intencional na homilia e na comunicação. Clareza, concisão e propósito do que se quer comunicar estabelecem conexão e favorecem a adesão dos fiéis. Fazemos o máximo para ajudar as paróquias a planejar suas homilias e sua comunicação, de forma que todos na igreja ouçam uma mensagem que foi construída sobre um denominador comum. 

Em suma, é criar um ambiente acolhedor do qual as pessoas queiram fazer parte. Embora seja um termo comercial, de certa forma diríamos que o fim de semana é nosso produto principal, ou é o lugar principal em que a cultura da paróquia é definida. 

Há, ainda hoje, segmentos que afirmam que o que importa é apegar-se àquilo que se baseia na Tradição da Igreja e que não é preciso atualizar a metodologia. Qual sua opinião a respeito? 

Concordo em parte com isso. A mensagem não muda, mas os métodos devem mudar. Novamente, a mesma coisa: há uma conexão com nossa fé que é a Tradição. Nós, católicos, acreditamos nas Escrituras e na Tradição e há o respeito ao nosso passado, porém temos que atualizar, dar espaço à novidade ao transmitir os ensinamentos. 

Deus é o mesmo ontem, hoje e sempre, porém, como nos ensina a carta aos Hebreus, Deus também está fazendo algo novo, Ele se faz novo e, então, precisamos de ventos frescos, novos movimentos do Espírito Santo, que, para tanto, costumo usar o temo ortodoxia dinâmica. 

Vamos nos mover, estamos cultivando a ortodoxia enraizada em nossa fé católica, então não acho que seja realmente ortodoxo dizer que vamos ficar presos à Tradição. Acho que precisamos voltar aos Atos dos Apóstolos, e novamente, deixar que o Espírito Santo se mova e nos inspire. 

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