Um amplo chamado à misericórdia com os enfermos

Na celebração do 30º dia mundial do enfermo, O SÃO PAULO destaca como o olhar misericordioso com os doentes ressoa na vida cristã e em iniciativas da Igreja

Foto: Vatican Media/CNA

Sensibilizar os cristãos e toda a sociedade para que se assegure a melhor assistência possível aos enfermos, ajudá-los a compreender seu sofrimento, reforçar o serviço pastoral à Saúde, destacar a formação espiritual e moral dos agentes de Saúde e estimular a maior compreensão dos sacerdotes sobre a assistência religiosa aos doentes são alguns dos objetivos do Dia Mundial do Enfermo, instituído por São João Paulo II em 1992 e celebrado desde 1993 sempre em 11 de fevereiro.

Na mensagem para a 30ª edição da data, o Papa Francisco faz um amplo chamado à Igreja e à sociedade para a proximidade e caridade com os doentes, conforme se expressa no tema escolhido para este ano: “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36).

O Pontífice ressalta que, nestes 30 anos em que a data tem sido celebrada, muito se avançou no cuidado com os enfermos e em seu acompanhamento pastoral, mas ainda há um longo caminho a percorrer para que consigam “viver o período da doença unidos a Cristo crucificado e ressuscitado”. O Papa lembra, também, as dificuldades das populações de regiões mais pobres para acessar os serviços de saúde, obter medicamentos e as vacinas contra a COVID-19.

Francisco recorda, ainda, que Deus é “rico em misericórdia” (Ef 2,4) e que Jesus é a Suprema testemunha do amor misericordioso do Pai, razão pela qual Ele manda que seus apóstolos priorizem a atenção aos enfermos.

AOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE

Médicos, enfermeiros, técnicos de laboratório, auxiliares e cuidadores dos enfermos recebem menção especial do Pontífice na mensagem: “Queridos profissionais da saúde, o vosso serviço junto dos doentes, realizado com amor e competência, ultrapassa os limites da profissão para se tornar uma missão. As vossas mãos que tocam a carne sofredora de Cristo podem ser sinal das mãos misericordiosas do Pai”, diz o Papa, que assegura suas orações para que eles, “ricos em misericórdia, ofereçam aos pacientes, juntamente com os tratamentos devidos, a sua proximidade fraterna”.

Francisco bendiz ao Senhor pelos progressos da ciência médica e ressalta que de modo algum se deve “esquecer a singularidade de cada doente, com a sua dignidade e as suas fragilidades. O doente é sempre mais importante do que a sua doença, e por isso qualquer abordagem terapêutica não pode prescindir da escuta do paciente, da sua história, das suas ansiedades, dos seus medos”.

Médica há 30 anos, a infectologista Ana Angélica Bulcão Portela, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, destaca ao O SÃO PAULO o papel fundamental da escuta ao paciente por parte de toda a equipe multidisciplinar: “Toda essa atenção faz uma diferença muito grande não só para ele exteriorizar o que está sentindo, mas também para que tenha conhecimento sobre a própria doença e a família saia da obscuridade”.

Ana Angélica lamenta, porém, que nem sempre seja possível realizar essa escuta atenta. “Infelizmente, se coloca ao profissional de Saúde metas a cumprir, número de pacientes a ser atendidos, e todo esse processo de escuta fica muito prejudicado”, comenta, também pedindo mais compreensão dos atendidos e dos gestores para com os profissionais da Saúde.

INSTITUIÇÕES CATÓLICAS NA SAÚDE: OBRAS PRECIOSAS

Ainda na mensagem, o Papa recorda a atuação histórica das instituições católicas em favor dos doentes, em especial as crianças, idosos e pessoas mais fragilizadas. “Misericordiosos como o Pai, muitos missionários acompanharam o anúncio do Evangelho com a construção de hospitais, dispensários e lugares de tratamento. São obras preciosas, através das quais se concretizou a caridade cristã e se tornou mais credível o amor de Cristo, testemunhado pelos seus discípulos.

Uma dessas iniciativas é realizada pela associação privada de fiéis Aliança de Misericórdia. No projeto “Vítimas da Misericórdia”, pessoas acometidas por doenças graves oferecem seus sofrimentos e suas dores a Jesus, em expiação, pela salvação das almas e por toda a Aliança.

Desde 2016, a missionária celibatária Irmã Maria Paula participa desta iniciativa. O acompanhamento às “vítimas de misericórdia” ocorre por meio de visitas as casas, para que elas possam orar em comunidade, receber a Comunhão e participar de Celebração da Palavra. “Se nessa visita percebemos que a pessoa precisa de alguma ajuda material, como, por exemplo, uma assistência médica, nós fazemos esta ponte com o hospital ou com a assistência social. Portanto, é uma iniciativa de acompanhamento espiritual e material. Também buscamos por cestas básicas, cadeiras de rodas e outros itens se for preciso”, detalhou, comentando que mesmo durante a pandemia as atividades não foram interrompidas.

“A dor sempre vai ter um sentido maior quando é vivida na ótica do amor, pois o amor não existe sem renúncia, sem oferecimento, sem sacrifício, tanto por parte da própria vítima quanto das pessoas que estão à volta dela. Nós sempre saímos muito engrandecidos dessas visitas, pois elas sempre apontam para uma esperança maior”, afirma a Irmã Maria Paula.

Foto: Aliança de Misericórdia

PROXIMIDADE PASTORAL

O agir pastoral da Igreja em favor dos doentes é recordado pelo Pontífice na mensagem para o 30º Dia Mundial do Enfermo, na qual ele lembra que não se pode deixar de oferecer aos enfermos “a proximidade de Deus, a sua bênção, a sua Palavra, a celebração dos sacramentos e a proposta de um caminho de crescimento e amadurecimento na fé”

Coordenador da Pastoral da Saúde na Arquidiocese de São Paulo, José Gimenez assegura que ao longo da atual pandemia a Pastoral não só manteve os trabalhos de assistência religiosa como precisou ampliá-los. “Foi preciso mudar algumas estratégias por causa da não realização de visitas pessoalmente, mas estivemos próximos dos nossos enfermos por todo o tempo, seja por mensagens, telefonemas, bem como os auxiliando e ajudando no que fosse necessário. Mesmo quando precisavam de algum respaldo de medicamentos ou de ida a médicos, tentávamos viabilizar. A Pastoral da Saúde nos últimos dois anos trabalhou neste modelo não presencial muito mais do que fazia quando era só presencialmente”, garante, comentando, ainda, que a Pastoral intensificou o diálogo com os profissionais da Saúde para prestar seu apoio e agradecimento pelo empenho em suas funções neste momento de pandemia.

MISSÃO DE TODOS OS BATIZADOS

Ao final da mensagem, o Papa Francisco recorda que a atenção aos enfermos é uma das obras de misericórdia, algo, portanto, que todo batizado deve se comprometer a fazer: “Gostaria de lembrar que a proximidade aos enfermos e o seu cuidado pastoral não competem apenas a alguns ministros especificamente delegados para isso; visitar os enfermos é um convite feito por Cristo a todos os seus discípulos. Quantos doentes e quantas pessoas idosas há que vivem em casa e esperam por uma visita! O ministério da consolação é tarefa de todo batizado, recordando-se das palavras de Jesus: ‘Estive doente e me visitastes’ (Mt 25,36)”.

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Geraldo
Geraldo
2 anos atrás

É uma grande graça recebida de DEUS, ser parte da pastoral da saúde, alegria palpitante cada dia de minha vida em estar junto com os que sofrem. Sob o MANTO SAGRADO de NOSSA SENHORA APARECIDA e SÃO JOSÉ também SÃO CAMILO.