Amparo Maternal: Há 85 anos, braços e corações abertos a gestantes, mães e bebês

Na São Paulo da década de 1930, mães solteiras e mulheres pobres, mestiças e negras que se viam com uma gravidez indesejada ou não planejada eram frequentemente abandonadas por seus parceiros e demais familiares, passando a ter a rua como “morada”.

Essa situação era vista com naturalidade por muitos, mas não pela madre franciscana Marie Domineuc, o médico obstetra Álvaro Guimarães Filho e Dom José Gaspar d’Afonseca e Silva, então Arcebispo de São Paulo. Juntos, eles começaram a alugar casas na zona Sul da capital paulista para abrigar essas gestantes e puérperas com recém-nascidos até que estabilizassem suas condições de vida.

Assim começou o Amparo Maternal, fundado em 20 de agosto de 1939, e que neste mês completa 85 anos de história, mantendo o lema que motivou o início desta missão em defesa da vida: “Nunca recusar ninguém”.

Atualmente, o Centro de Acolhida do Amparo Maternal tem capacidade para abrigar até 100 pessoas, entre gestantes, puérperas e mães em situação de vulnerabilidade, seus bebês até completarem 6 meses de idade e seus outros filhos com até 6 anos de vida. Os acolhidos contam com um trabalho social personalizado, que busca favorecer a dignidade humana, a reinserção social, familiar e comunitária, o desenvolvimento de habilidades para autonomia e geração de renda. As ações são mantidas em parceria com a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (Smads).

CONSOLIDAÇÃO EM MEIO ÀS DIFICULDADES

A construção do prédio do Amparo Maternal, na Rua Loefgren, Vila Clementino, foi autorizada pela Câmara Municipal apenas em 1945. Entretanto, foram necessários 19 anos para que tudo fosse concluído. Falta de recursos, atrasos, resistências dos moradores do entorno e até um incêndio durante as obras aconteceram nesse meio tempo.

Em 1964, finalmente o prédio com a maternidade e um abrigo social para mães e bebês foi entregue. Em 1978, teve início a construção de um prédio ao lado, exclusivamente destinado ao aloja- mento, o atual Centro de Acolhida para Gestantes, Mães e Bebês, inaugurado em 1983, na Rua Napoleão de Barros.

Nessa época, a Associação Amparo Maternal já estava sob os cuidados da Congregação das Irmãs de São Vicente de Paulo Gysegem, tendo à frente a Irmã Anita Gomes.

“Quando cheguei, em 1974, estava muito difícil. Quem não era parturiente não ficava na cama. Saía, andava… Era uma confusão. Foi quando começamos a batalhar por um novo prédio. Dom Paulo Evaristo Arns [Arcebispo à época] ajudou muito, chamou amigos de todo lado, a minha ordem religiosa também mandou verbas, e em 1978 começou a construção do albergue”, recordou Irmã Anita em uma entrevista ao Banco de Memória e Histórias de Vida da Escola Paulista de Medicina e da Unifesp, em 2007.

“Tudo era muito precário e o povo das favelas era ainda mais pobre do que agora. As mulheres vinham de chinelo de dedo, sujas. Muitas que recorriam ao albergue, não só para dar à luz, vinham em um estado depressivo tremendo… E ficavam todas juntas, quem estava bem e quem não estava. Grávidas e as que já haviam dado à luz. Atendemos também muitas com doenças mentais”, detalhou na mesma entrevista a Irmã, que faleceu em julho de 2023.

EXPANSÃO

Em 1985, foi consolidado o serviço de voluntariado na instituição, viabilizando ações como o Bazar do Amparo Maternal e o auxílio a mães e recém-nascidos da maternidade e do Centro de Acolhida.

Ao celebrar 50 anos, em 1989, o Amparo Maternal já contabilizava a realização de 200 mil partos, em uma época em que as maternidades públicas não eram acessíveis para todos no Brasil, algo que só aconteceria a partir de 1990, com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS).

Ainda na década de 1990, o Amparo manteve parceria com a Escola Paulista de Medicina (EPM), o que viabilizou a criação da unidade ginecológica, ambulatório, cozinha, unidades de enfermagem, escritórios e recepção. Nos anos 2000, o Amparo Maternal também teve papel relevante para difundir a conscientização sobre a vacinação infantil e o aleitamento materno.

Em 2007, a Associação Amparo Maternal passou a contar com o apoio administrativo da Associação Congregação de Santa Catarina (ACSC). No ano seguinte, esta instituição assumiu a gestão da maternidade, que se tornou conhecida como Hospital Amparo Maternal, e foi estabelecido convênio com a Smads para os trabalhos do Centro de Acolhida para Gestantes, Mães e Bebês.

MOMENTO ATUAL

Desde 2021, com o fim da parceria com a Associação Congregação de Santa Catarina, a maternidade está sendo gerida pela Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) e a Associação Amparo Maternal, que continua à frente do Centro de Acolhida, tem como diretores o casal Lorenna Pirolo, diretora-presidente, e Emerson José Pirolo, diretor-financeiro, fundadores da Associação Católica Missionários da Redenção.

A nova gestão tem equilibrado as contas da instituição e buscado parcerias para a expansão dos trabalhos, sempre com o apoio da Arquidiocese de São Paulo.

Conheça mais sobre estas iniciativas, saiba como apoiá-las e fique por dentro de tudo o que a Associação Amparo Maternal fará neste mês para celebrar seus 85 anos, mantendo a missão de ter braços e corações abertos para assegurar dignidade de vida a bebês, gestantes e mães em situação de vulnerabilidade.

(Edição: Daniel Gomes/O SÃO PAULO)

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