Bispos encorajam católicos brasileiros a serem testemunhas do diálogo e da comunhão

No Santuário de Aparecida, bispos consagram o ministério episcopal, as dioceses e o povo de Deus à intercessão da Padroeira do Brasil, dia 19
Thiago Leon/Santuário Nacional

“Dez dias de encontro, de oração, de estudo, de debate, de construção de indicações viáveis para a evangelização no nosso Brasil”. Assim foi definida a 61ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (AG CNBB) por Dom Jaime Spengler, Arcebispo de Porto Alegre (RS) e Presidente da entidade.

O evento, realizado entre os dias 10 e 19, em Aparecida (SP), reuniu 442 bispos que, entre diversos temas, deram destaque ao processo de elaboração das novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE).

Na missa conclusiva da Assembleia, no Santuário Nacional de Aparecida, na sexta-feira, 19, os bispos consagraram o ministério episcopal, as dioceses e todo o povo de Deus à materna intercessão da Padroeira do Brasil.

COMUNHÃO E AFETO COLEGIAL

Na entrevista coletiva de encerramento da AG CNBB, Dom Jaime enfatizou que a CNBB é “uma instância de comunhão entre os bispos do Brasil”, e definiu cada assembleia como um Pentecostes.

Dom Ricardo Hoepers, Bispo Auxiliar de Brasília (DF) e Secretário-geral da CNBB, sublinhou o “afeto colegial entre os bispos ao longo do encontro”. Para Dom Justino de Medeiros Silva, Arcebispo de Goiânia (GO) e 1º Vice-presidente da CNBB, a Assembleia Geral à uma experiência de “aprendizado de escuta”, na qual os bispos partilham muito da vida e da missão, bem como as preocupações e esperanças. Ele afirmou, ainda, que os bispos retornariam às suas dioceses animados e revigorados para servir à Igreja no Brasil.

Dom Paulo Jackson Nóbrega de Souza, Arcebispo de Olinda-Recife (PE) e 2º Vice-presidente da CNBB, enfatizou que a Assembleia desafia a Igreja no Brasil a entender que, embora haja diferenças, os bispos estão “sempre unidos pela causa do Evangelho e da vida, da vida plena para todos”.

DISCERNIMENTO COMUNITÁRIO

Os bispos avaliaram positivamente o método de discernimento comunitário intitulado de “Conversa no Espírito”, adotado no processo de reflexão sobre a atualização das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE), que já havia sido utilizado no Sínodo dos Bispos, no Vaticano, em outubro de 2023.

Dom Cícero Alves de França, Bispo Auxiliar de São Paulo, relatou que a dinâmica foi um grande momento de aprendizado para desenvolver a escuta ativa, reflexiva, que “vai do cérebro ao coração e que leva em conta o respeito e a atenção que se deve dar para quem fala”.

Dom Maurício da Silva Jardim, Bispo de Rondonópolis–Guiratinga (MT), ressaltou que essa metodologia favorece o exercício de ouvir a cada um, enriquecendo e ampliando os horizontes para uma resposta pastoral mais qualificada que responda aos desafios da ação evangelizadora no Brasil.

Facilitador de um dos grupos, Dom Carlos Alberto Breis Pereira, Arcebispo de Maceió (AL), enfatizou que escutar é diferente de ouvir e que o método utilizado na Assembleia “coloca o coração em atenção e abertura diante do que o outro fala”.

Comunicação CNBB

MENSAGEM INÉDITA

Outra novidade dessa Assembleia Geral foi a elaboração da Mensagem aos Cristãos Católicos do Brasil, publicada na sexta-feira, 19. O teor desta mensagem difere da tradicional Mensagem ao Povo Brasileiro, divulgada na quarta-feira, 17.

No texto, o episcopado se dirige aos padres, diáconos, consagrados e consagradas, irmãos e irmãs das comunidades católicas, unidos “na fé em Cristo ressuscitado”.

Ao apresentar a mensagem para a imprensa, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, que integrou a equipe responsável pela elaboração da mensagem aprovada pela Assembleia, explicou que foram valorizadas a vida das comunidades, a firmeza na fé, a caridade e a esperança muito expressivas, a importância dada à Palavra de Deus, à celebração da Eucaristia e dos demais sacramentos.

“Alegra-nos saber que vocês são animados pela esperança cristã ‘que não decepciona’ (Rm 5,5) e não nos deixa abater diante das dificuldades. Esta esperança se baseia na firme certeza de que Jesus ressuscitado está sempre conosco e nos dá, sem reservas, o Espírito Santo para a perseverança no bem”, lê-se em um dos trechos.

Ainda conforme explicou Dom Odilo, a mensagem traz palavras de encorajamento aos cristãos católicos para que sejam promotores do diálogo e do respeito ao próximo, mesmo quando há divergências de opinião. “A nossa fé não deve dividir, mas, sim, ser um elemento que ajuda a criar comunidade também com aqueles que não creem como nós”.

O texto ressalta, ainda, a comunhão que os fiéis católicos devem ter com o Papa e com os bispos; traz uma exortação para que não desanimem diante das dificuldades, sejam ativos na comunidade de fé e na sociedade; e para que bem vivam este ano de oração em preparação ao Jubileu de 2025, e façam o mesmo ao longo do Ano Santo.

A íntegra da mensagem e seus principais destaques podem ser lidos aqui.

AO POVO BRASILEIRO

Na tradicional Mensagem ao Povo Brasileiro, os bispos reunidos em assembleia ressaltaram que a busca de soluções para o Brasil passa pelo diálogo e pelo entendimento.

“Os tempos atribulados exigem coragem e paciência para crescermos na Amizade Social (cf. Campanha da Fraternidade 2024). As muitas dificuldades ajudam a construir uma atitude de resistência e resiliência na busca por uma sociedade mais justa e fraterna, valores fundamentais do Reino de Deus. O passado recente nos ensina que a busca de soluções para o Brasil passa necessariamente pelo diálogo e pelo entendimento. Muito do que superamos deveu-se à articulação entre agentes lúcidos e cidadãos compromissados com a vida, a democracia e o país”, lê-se em um dos trechos.

O episcopado afirma acompanhar com dor o crescimento do crime, das milícias, do narcotráfico, da violência nas cidades e no campo, do bullying, do vandalismo, do racismo, do feminicídio, do tráfico humano e da exploração sexual de crianças, adolescentes e vulneráveis; a realidade dos migrantes, do povo em situação de rua, da população encarcerada, a corrupção, o nepotismo e o tráfico de influência.

O texto também chama a atenção para a precarização do trabalho e o desemprego, as questões climáticas, os povos indígenas, a democracia e a consciência cívica e os desafios do mundo da comunicação.

Por fim, a mensagem ressalta que as comunidades cristãs têm sido exemplos de uma solidariedade concreta, amizade e responsabilidade social. “Somente a cultura do encontro pode promover uma sociedade mais justa e fraterna”, afirmam os bispos.

A íntegra da mensagem e seus principais destaques podem ser vistos aqui.

(Colaboraram: Daniel Gomes e Padre Tiago Barbosa, Regional Sul 1 da CNBB)

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