‘Deus chama e a Igreja acolhe e confirma a vocação verdadeira’

Em entrevista ao O SÃO PAULO, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, falou sobre os desafios atuais da formação presbiteral e ressaltou a preocupação da Igreja para que a preparação dos candidatos contemple todas as dimensões necessárias em vista de uma formação integral. Confira:

O SÃO PAULO – Quais são os desafios da formação presbiteral na atualidade?

Dom Odilo Pedro Scherer – Entre os desafios, destaco dois. O primeiro, é encontrar vocações autênticas em número suficiente, conforme as necessidades da Igreja nos tempos atuais. Essa questão diz respeito a todas as comunidades da Igreja, que devem fazer a sua parte para que despertem vocações sacerdotais nas famílias, grupos eclesiais e paróquias. Cada comunidade paroquial deve preocupar-se para que haja vocações também no seu meio. Outro desafio é a adequada formação nos seminários e centros de estudos de Filosofia e Teologia. A preparação dos futuros sacerdotes precisa ser profunda e abrangente, envolvendo a vida pessoal e o caráter, a preparação humana, cristã, espiritual, cultural e teológica dos formandos, para o bom desempenho da vida sacerdotal. A formação, por outro lado, precisa estar sintonizada com as preocupações da Igreja e com as situações do povo e as necessidades da Igreja local e universal.

Quais são as características importantes para que um jovem seja um bom sacerdote?

Para ser um bom padre é preciso ser, antes de tudo, um bom católico, uma pessoa de fé, de amor à Igreja e de prática religiosa assídua. Por outro lado, é necessário ter uma retidão de intenção e de conduta. Um caráter bem formado e firme, que se manifesta nas virtudes humanas essenciais, é a base sólida sobre a qual se edificam as virtudes cristãs e as qualidades sacerdotais.

O período de formação no Seminário, geralmente, é de 8 ou 9 anos. Porque leva tanto tempo para formar um padre?

De fato, as diretrizes da Igreja pedem que o seminário tenha diversas etapas: o período propedêutico, minimamente de um ano; o período dos estudos filosóficos, de três anos; o período dos estudos teológicos, de quatro anos. Além de um ano de experiência diaconal em preparação à ordenação sacerdotal. Cada etapa possui suas metas e sua pedagogia própria, visando o bom discernimento vocacional, a formação do bom católico, discípulo de Cristo, e a formação do bom sacerdote, ministro de Cristo. Durante esse tempo, os seminaristas frequentam dois cursos superiores: Filosofia e Teologia. O estudo é importante, mas não é tudo na formação sacerdotal. Os seminaristas, ao mesmo tempo, são acompanhados nas outras dimensões da formação, no discernimento e amadurecimento vocacional. A formação no seminário deve oferecer uma boa base para que o futuro sacerdote tenha condições de desempenhar bem a missão que receberá pela ordenação sacerdotal.

É correto dizer que é Deus quem chama, mas é a Igreja quem escolhe?

É verdade que a vocação vem de Deus. Mas cabe à Igreja o discernimento, para verificar a autenticidade da vocação. Por isso, pode ser tida como autêntica somente aquela vocação que, após o discernimento sereno e maduro sobre os sinais vocacionais, confirmem a autenticidade. Deus chama e a Igreja acolhe e confirma a vocação verdadeira.

Nesses anos todos de sacerdócio, o que o senhor considera de mais belo no ministério sacerdotal?

A vida sacerdotal proporciona muitas experiências bonitas ao sacerdote. A primeira delas é a fé do povo que, na sua simplicidade, reconhece no padre um “homem de Deus” e assim se dirige a ele, esperando dele comportamento e atitudes condizentes. Essa atitude das pessoas em relação ao sacerdote reflete a fé genuína da Igreja Católica, baseada no Evangelho de Cristo, que recomendou: “Quem vos recebe, recebe a mim; quem vos rejeita, rejeita a mim” (Lc 10,16). Ou então: “Todo poder me foi dado no céu e na terra. Ide, pois, e fazei discípulos…” (Mt 28,18-19). A dignidade e a autoridade sacerdotal superam nossa dignidade e autoridade pessoal e são dons de Deus à sua Igreja, para o bom desempenho de sua missão. Nem sempre nós mesmos nos damos conta do fato de sermos ministros de Cristo, e não, “profissionais autônomos”, que agem por sua própria iniciativa e competência. O sacerdócio, exercido com fé, generosidade e humildade, proporciona muitas alegrias ao sacerdote, junto com sacrifícios e cruzes, que também não faltam.

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