A memória litúrgica do primeiro santo nascido no Brasil foi celebrada na sexta-feira, 25, no Mosteiro da Luz, em São Paulo
Centenas de fiéis e devotos de Santo Antonio de Sant’Anna Galvão participaram no Mosteiro da Luz, em São Paulo, das sete missas celebradas na sexta-feira, 25, por ocasião da memória litúrgica do Santo. Frei Galvão morreu em 1822 e está sepultado sob o presbitério desta igreja que o próprio ajudou a construir.
A primeira das missas do dia aconteceu às 7h e a última às 18h, seguida de uma procissão, que encerrou os festejos iniciados com a novena realizada entre 16 e 24 de outubro, durante a qual houve uma caminhada penitencial, no domingo, 20, entre o Santuário São Francisco e o Mosteiro da Luz.
A missa das 16h da sexta-feira foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, que saudar os fiéis recordou que Frei Galvão viveu a maior parte do tempo na capital paulista, razão pela qual é sempre uma honra celebrá-lo e que o Santo continua a olhar com carinho para a cidade e por todos que nela vivem.
“Pela intercessão de Santo Antonio de Sant’Anna Galvão, queremos pedir por nossa proteção, por nossas famílias, pelos pobres da nossa cidade, também pelos doentes e pessoas aflitas”, afirmou o Arcebispo de São Paulo no começo da missa, recordando, ainda, que o frade franciscano “marcou a nossa cidade com sua presença, com seus passos, de modo particular neste lugar, o Mosteiro da Luz”.
FIEL À IGREJA E ATENTO AOS MAIS POBRES
Dom Odilo, na homilia, recordou que Santo Antonio de Sant’Anna Galvão, o primeiro santo nascido no Brasil, deixou em São Paulo “uma marca inconfundível, indelével”, e que sua canonização ocorreu na cidade, em 11 de maio de 2007, presidida pelo Papa Bento XVI.
O Arcebispo enfatizou que o Santo teve uma vida voltada à fraternidade e à caridade, tendo “intensa dedicação a Deus, a Jesus Cristo e à Igreja; e, socialmente, grande atenção aos pobres, às pessoas aflitas e doentes”.
EXEMPLO DE HUMILDADE
Dom Odilo comentou, ainda, que Frei Galvão viveu a virtude da humildade, que é recomenda a todo o cristão. “Jesus diz no Evangelho, ‘aprendei de mim que sou manso e humilde de coração’. Ele é o primeiro que nos dá o exemplo de mansidão e humildade”, comentou.
“A humildade é uma qualidade exaltada ao longo de toda a Sagrada Escritura. É preciso ter humildade, antes de tudo, diante de Deus”, enfatizou o Arcebispo, recomendando que esta virtude também seja vivenciada por todos nos relacionamentos interpessoais.
“Aprendamos estas virtudes de Frei Galvão que estão baseadas na Palavra de Deus e no caminho de santidade que Jesus nos indica. Deus resiste aos soberbos, mas dá sua graça aos humildes. Que também nós exercitemos a humildade e a caridade, com o coração sensível às necessidades do próximo, como fez Frei Galvão”, exortou Dom Odilo, na missa que teve entre os concelebrantes o Padre Fabiano Felício da Silva, maronita, com atuação na Catedral Nossa Senhora do Líbano, no bairro da Liberdade.
SAIBA MAIS SOBRE FREI GALVÃO
Nascido em Guaratinguetá (SP), em 1739, Frei Galvão foi enviado para estudar no Seminário da Companhia de Jesus na cidade de Belém de Cachoeira (BA), com 13 anos de idade. Aos 21, ingressou no noviciado da Ordem dos Frades Menores, no Rio de Janeiro.
Ordenado sacerdote em 11 de julho de 1762, Frei Galvão foi designado para o Convento de São Francisco, em São Paulo, para aperfeiçoar os estudos e praticar o apostolado, durante o qual se destacou por suas virtudes e empenho pastoral.
A partir de 1770, tornou-se confessor do Recolhimento Santa Teresa, onde conheceu a Irmã Helena Maria do Espírito Santo, que afirmava ter visões pelas quais Jesus lhe pedia que fundasse um novo Recolhimento para mulheres viverem de maneira comunitária, dedicando-se à oração, sem, no entanto, professarem os votos religiosos.
Em 2 de fevereiro de 1774, Frei Galvão fundou um Recolhimento, dedicando-o a Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência. Esse Recolhimento se tornou um mosteiro apenas em 1929, sendo incorporado à Ordem da Imaculada Conceição (Concepcionistas), localizada no atual Mosteiro da Luz.
Durante 14 anos, o frade se empenhou pessoalmente na ampliação das instalações do Recolhimento. E foi justamente neste local que ele passou os últimos anos de sua vida, depois de obter autorização de seus superiores, por não ter mais forças físicas para se deslocar diariamente para atender as religiosas. Morava em um cômodo no fundo da igreja, atrás do sacrário, e lá faleceu em 23 de dezembro de 1822.
Frei Galvão era grande devoto de Nossa Senhora e propagador de sua Imaculada Conceição e difundiu essa convicção especialmente nas famosas pílulas confeccionadas e distribuídas pelas monjas do Mosteiro da Luz.
O PRIMEIRO SANTO NASCIDO NO BRASIL
Em 1938, com a aprovação de Dom Duarte Leopoldo e Silva, então Arcebispo de São Paulo, foi aberto o processo de beatificação de Frei Galvão. Ao todo, o processo levou 50 anos para ser concluído e reuniu inúmeros documentos, depoimentos e milhares de relatos de graças alcançadas por sua intercessão.
Em 1991, o Cardeal Paulo Evaristo Arns, então Arcebispo de São Paulo, nomeou a Irmã Célia Cadorin (1927-2017) para retomar o processo. Ainda era necessário o reconhecimento de um milagre atribuído à intercessão de Frei Galvão para que fosse declarado bem-aventurado.
O milagre que determinou a beatificação de Frei Galvão aconteceu em 1990, na Vila Brasilândia: a menina Daniela Cristina da Silva, aos 4 anos de idade, teve complicações broncopulmonares e crises convulsivas. Foi então internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, com diagnóstico de encefalopatia hepática por consequência da hepatite causada pelo vírus A, insuficiência hepática grave, insuficiência renal aguda, intoxicação por causa de metocloropramida e hipertensão. Esses sintomas a levaram a uma parada cardiorrespiratória e outras complicações graves.
Após 13 dias na UTI, os familiares, amigos, vizinhos e religiosas do Mosteiro da Luz rezaram e deram à menina as pílulas de Frei Galvão. Em 13 de junho de 1990, a menina Daniela deixou a UTI e, em 21 de junho, teve alta do hospital, considerada curada.
Em 25 de outubro de 1998, Frei Galvão foi beatificado por São João Paulo II. A canonização do frade ocorreria nove anos depois, em 11 de maio de 2007, em uma missa celebrada no Campo de Marte, em São Paulo, pelo Papa Bento XVI.
Frei Galvão foi canonizado após o reconhecimento de um segundo milagre atribuído à sua intercessão, que ocorreu em 1999, em São Paulo, envolvendo Sandra Grossi de Almeida e seu filho, Enzo de Almeida Gallafassi.
Sandra já havia sofrido três abortos espontâneos, devido à malformação do seu útero, que tornara impossível levar a termo qualquer gravidez. Em maio de 1999, ela ficou novamente grávida e sabia dos riscos de ter uma hemorragia e morrer.
Apesar do prognóstico médico ser de provável interrupção da gravidez ou de que esta chegasse, no máximo, ao quinto mês, a gestação evoluiu normalmente até a 32ª semana.
O parto ocorreu sem complicações no dia 11 de dezembro de 1999. “A criança nasceu pesando 1.995g e medindo 42cm, mas apresentou problemas respiratórios com uma doença das membranas hialinas classificada de 4º grau, o mais grave. Foi entubada, porém, teve um quadro de evolução muito rápido, sendo extubada no dia 12, à tarde. Recebeu alta hospitalar no dia 19 de dezembro de 1999”, relatou Irmã Célia Cadorin, em um documento que compõe o processo de canonização.
Realizado o processo diocesano, os peritos médicos da Congregação para as Causas dos Santos aprovaram, por unanimidade, o fato como “cientificamente inexplicável no seu conjunto, segundo os atuais conhecimentos científicos”.
Sandra e o filho participaram da celebração de canonização. Naquela ocasião, Enzo, então com 7 anos, fez sua primeira Comunhão nas mãos do Papa Bento XVI.
(Colaborou: Karen Eufrosino)
(Com informações da reportagem “Abertas as comemorações do bicentenário da morte de Frei Galvão”, publicada no O SÃO PAULO em outubro de 2021)