Obras jesuíticas em São Paulo: Capela de São Miguel Arcanjo

O SÃO PAULO inicia série sobre obras Jesuíticas espalhadas pela capital paulista e arredores, e que podem ser facilmente visitadas

POR PERCIVAL TIRAPELI
ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Percival Tirapeli

A capela de São Miguel Paulista (1622) é considerada pelo pesquisador francês Germain Bazin como o único exemplo de construção que chegou intacta até nós, e fica na zona Leste da cidade de São Paulo. A capela inovou nas plantas luso-brasileiras, inaugurando a colocação de um corredor único lateral ao longo da nave e um grande pórtico alpendrado sustentado por pilares. Tal modalidade de telheiro se estenderia por construções rurais até fins do século XVIII.

A fundação da aldeia de São Miguel deu-se por volta de 1562, e a igreja já constava do testamento de Anna de Moraes, em 1616. Lúcio Costa observa sobre a técnica construtiva:

Na capela tão simpática de São Miguel, daquela mesma região de São Paulo, o aspecto mais leve e gracioso resulta no alteamento da nave com paredes de adobe, material muito empregado nas reformas e acréscimos do século XVIII, e escoramento interno de madeira. O feitio primitivo desta velha capela de 1622 – contemporâneo do portal e da peça valiosa que é a grade de separação do presbitério […] vestígios de mão-de- -obra indígena”. Continua o urbanista que são das mais significativas da arte daquele período, merecendo receber a denominação de arte brasileira e não mais de luso-brasileira.

A capela passou por restauros coordenados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1941, e na primeira década do século XXI foram redescobertas as pinturas dos altares em perspectiva, e o templo passou a mostrar o acervo museológico.

ALTAR EM PERSPECTIVA

Este exemplo de altar em perspectiva é único. A pintura sobrevivente em meio a tantas mudanças e restauros está sobre frágil suporte de parede de adobe que lhe dá um aspecto de simplicidade e pureza, e foi realizada por algum indígena a enfatizar o aspecto arquitetônico do altar pintado com as quatro colunas. Acima, os florais mostram os modelos retirados das talhas vazadas, à maneira da América Espanhola. As colunas mostram a videira, símbolo do Cristo ao qual devem os cristãos estar unidos. Os cachos de uva são a alegria da videira, do conhecimento por meio do vinho, e simbolizam a lembrança do sacrifício de Cristo e, portanto, da aliança do Homem com Deus.

O nicho escavado na parede é a parte física do retábulo para se colocar o santo, neste caso o São Miguel à direita, e a Imaculada Conceição à esquerda. Dentro dos nichos, em continuidade à simbologia da videira, o resplendor da Eucaristia, como sol da Justiça, tão usado pelos jesuítas; dentro do arco, rolos de nuvens envolvem as faces do sol e da lua – elementos da natureza, da luminosidade, da união dos opostos, do dia e da noite, do masculino e do feminino. A videira está a sustentar os acontecimentos do mundo celeste. De sua seiva emana a luz do Espírito.

CAPELA LATERAL E SACRISTIA

A capela lateral tem altar com pinturas ornamentais do século XVIII – certamente ainda do período dos jesuítas, expulsos em 1759 –, sobre tábuas corridas com motivos florais emoldurando uma cartela. Na porta ao lado do altar, deve-se notar, no batente, mascarões esculpidos, de pequenas dimensões. Na sacristia, as pinturas se encontram nas faces de um pequeno armário incrustado na parede de taipa com desenhos florais, em tons vermelho-alaranjados, com contornos bem definidos em tonalidades escuras.

Sobre um arcaz – armário para guardar os paramentos – há um oratório com amplo arco aberto e colunetas nas laterais, que sustentam o coroamento com pintura esverdeada.

No circuito museológico, área do alpendre lateral, há explicações sobre a construção da capela. Nos corredores, imagens de santos em argila. Vale a pena conhecer essa joia jesuítica em São Paulo!

CAPELA DE SÃO MIGUEL ARCANJO

Praça Padre Aleixo Monteiro Mafra, 10

São Miguel Paulista

CEP: 08011-010 – São Paulo (SP)

Telefone: (11) 2032-3291

museu@capeladesaomiguel.org

Visitação: de terça-feira a sábado, à tarde (aos sábados, há missa às 17h30)

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