Pais: cooperadores do amor de Deus criador

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No Brasil, no segundo domingo de agosto, comemora-se o Dia dos Pais. Embora na sociedade em geral essa data tenha um acento mais comercial, para a Igreja Católica é celebrada no contexto no mês vocacional, convidando os fiéis a refletirem sobre a paternidade e a família como um dom e um chamado de Deus para a realização do Seu plano de salvação.

O tema da paternidade e a vocação da família foi uma das questões refletidas nas assembleias do Sínodo dos Bispos de 2014 e 2015, da qual foi fruto a exortação apostólica Amoris laetitia (AL), do Papa Francisco, portanto, o que há de mais recente no magistério pontifício sobre o assunto. A seguir, O SÃO PAULO destaca alguns pontos desse documento sobre a paternidade.

No número 172 da AL, o Pontífice sublinhou que “Toda criança tem direito a receber o amor de uma mãe e de um pai, ambos necessários ao seu completo e harmonioso amadurecimento”, pois, a mãe e o pai “mostram aos filhos o rosto materno e o rosto paterno do Senhor”.

Com essas palavras, o Papa recordou que o pleno amadurecimento dos filhos requer tanto a forma feminina quanto a forma masculina do amor, que, de modos diversos, mas complementares, exprimem o “rosto do Senhor”.

A figura paterna ajuda a perceber os limites da realidade e caracteriza-se mais pela orientação, pela saída para o mundo mais vasto e cheio de desafios, pelo convite ao esforço e luta. Um pai com uma identidade masculina clara e feliz, que por sua vez combina afeto e aceitação para com a esposa, é tão necessário quanto o cuidado materno”, salientou o Papa (AL 175).

Em síntese, ao definir a comple- mentaridade das duas formas de amor parental, o Santo Padre destacou que o amor feminino é acolhedor e protetor, o amor masculino é exigente e enfrenta os desafios da vida. Francisco enfatizou, ainda, que as duas formas de amor refletem características diferentes do amor de Deus. “Ambos, homem e mulher, pai e mãe, são cooperadores do amor de Deus Criador e quase seus intérpretes. Mostram aos filhos o rosto materno e paterno do Senhor” (AL 172).

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PROXIMIDADE

No número 177 da Amoris laetitia, o Papa fez referência à “proximidade” dos pais, afirmando que “Deus coloca o pai na família para que, com as preciosas características da sua masculinidade, esteja próximo da sua esposa, para partilhar tudo, alegrias e tristezas, dificuldades e esperanças. E esteja próximo dos seus filhos no seu crescimento: quando brincam e quando se comprometem, quando estão despreocupados e quando estão ansiosos, quando se expressam e quando se calam, quando se ousam e quando estão com medo, quando dão o passo errado e quando encontram a rua; pai presente, sempre”, escreveu, ressalvando que ser presente “não é o mesmo que dizer controlador”, porque pais excessivamente controladores “cancelam seus filhos”.

Em seguida, Francisco reforçou: “Não é bom que os filhos fiquem sem pai e, assim, deixem de ser filhos antes do tempo”. No início do mesmo documento, ele destacou que a ausência do pai “penaliza gravemente a vida familiar, a educação dos filhos e a sua integração na sociedade” e esclarece que tal ausência pode ser física, afetiva, cognitiva e espiritual. “Esta carência priva os filhos de um modelo adequado do comportamento paterno”, observa.

Quando a ausência do pai acontece, seja por motivo de abandono ou mesmo a morte, o Pontífice sublinhou o valor da “família ampliada”, da presença dos avós e tios que buscam minimizar a lacuna deixada pelos genitores.

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SOCIEDADE SEM PAIS

Essa não foi a primeira vez que o Papa refletiu sobre a ausência paterna. No ciclo de catequeses dedicadas à família entre 2014 e 2015, ele salientou sua preocupação com o tema.

“Hoje, chegou-se a afirmar que nossa sociedade é uma ‘sociedade sem pais’[…] e, num primeiro momento, isso foi percebido como uma liberação: do pai-patrão, do pai como representante da lei que se impõe de fora, do pai como censor da felicidade dos filhos e obstáculo à emancipação e autonomia dos jovens”, disse em 28 de janeiro de 2015.

No entanto, o Santo Padre assinalou que, sobretudo nas sociedades ocidentais, foi-se ao extremo oposto. “O problema de nossos dias não parece tanto a presença intrometida dos pais, mas a sua ausência. Os pais, às vezes, estão tão focados em si mesmos e em seu trabalho e em suas conquistas individuais que se esquecem até da família. E eles deixam os pequeninos e os jovens em paz”, afirmou.

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ESPERAR E PERDOAR

Na segunda catequese dedicada à figura do pai, em 4 de fevereiro de 2015, o Papa, inspirando-se num texto dos Provérbios (Pv 23,15-16), sublinhou que a alegria de um pai não vem de ver o filho igual a si mesmo, mas ao perceber que o filho adquiriu um coração sábio.

Francisco acrescentou, então, que um bom pai “sabe esperar e sabe perdoar”. Na conhecida parábola do “filho pródigo”, de fato, quem espera na porta de casa o filho que se perdeu é o pai e o Papa diz que esta é uma tarefa que cabe a todos os pais que, após terem feito todo o possível para educar os seus filhos, não poderão evitar que por vezes cometam erros ou até se percam, pelo que, nestes casos, terão de saber “rezar e esperar com paciência, gentileza, magnanimidade, misericórdia” na espera do retorno das crianças.

“Se alguém pode explicar até o fundo a oração do ‘Pai-Nosso’ ensinada por Jesus, é precisamente quem vive pessoalmente a paternidade. Sem a graça do Pai que está nos céus, os pais perdem a coragem e abandonam o campoMas os filhos têm necessidade de encontrar um pai que os espera quando voltam dos seus fracassos. Farão de tudo para não o admitir, para não o revelar, mas precisam dele; quando não o encontram, abrem-se-lhes feridas difíceis de cicatrizar”, completou o Pontífice.

O Papa concluiu essa catequese lembrando que a Igreja está comprometida em apoiar com todas as suas forças a presença boa e generosa dos pais nas famílias, “porque para as novas gerações eles são guardiões e mediadores insubstituíveis da fé na bondade, da fé na justiça e da salvaguarda de Deus, como São José”.

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