Pelo centro de São Paulo, Via-Sacra destaca a Ecologia Integral e a dignidade das crianças e dos adolescentes

Cerca de 1,2 mil pessoas percorreram as ruas da região central da cidade para reformar a urgência de uma conversão ecológica e do zelo pela Casa Comum

Via-Sacra, iniciada nas escadarias da Catedral da Sé, com a saudação de Dom Odilo, tem estações encenadas por crianças e adolescentes
Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

De forma lúdica, a Via-Sacra da Criança e do Adolescente aconteceu na sexta-feira, 11, e percorreu os principais pontos do Centro da capital paulista, fazendo ressoar o tema da Campanha da Fraternidade de 2025 – “Fraternidade e Ecologia Integral” – e o lema “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). 

Organizada pela Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo, a Via-Sacra acontece há mais de 40 anos e tem como protagonistas crianças e adolescentes que revivem os passos da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Ao longo do percurso, os participantes também denunciam as diversas formas de injustiça e opressão que causam sofrimento e ferem a dignidade humana. 

O início da Via-Sacra foi nas escadarias da Catedral da Sé, com a acolhida aos participantes feita pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, e a encenação da 1ª estação. 

Na sequência, todos seguiram até o Pateo do Collegio, no qual se meditou a 2ª estação. A caminhada continuou em direção à Praça do Patriarca, em frente à Paróquia Santo Antônio, local em que aconteceu a 3ª estação. No Largo São Francisco – Santuário São Francisco de Assis, foi realizada a 4ª estação; e, por fim, o grupo seguiu à Praça da Sé, que abrigou a encenação da Ressurreição de Cristo, na 5ª estação, novamente nas escadarias da Catedral. 

Em cada estação, as reflexões foram conduzidas à luz do tema da CF 2025, utilizando a metodologia do Ver, Julgar, Agir e Propor. 

UM CAMINHO DE FÉ E DE LUTAS 

A Via-Sacra é parte de uma jornada histórica iniciada em 1985, na Região Belém, por iniciativa de Dom Luciano Mendes de Almeida, então Bispo Auxiliar de São Paulo, e de outras lideranças da Pastoral do Menor. 

Anualmente, é realizada na sexta-feira anterior à Semana Santa e combina um tríplice objetivo, como explicou ao O SÃO PAULO Sueli Camargo, coordenadora da Pastoral do Menor da Arquidiocese: “Além de ser um ato público de fé pelas ruas e de denunciar a ausência de políticas que atendam o povo invisível e marginalizado, a Via-Sacra é uma forma significativa de evangelização, pois acreditamos que a melhor maneira de evangelizar é fazer com que as pessoas vivenciem o Evangelho.” 

“Com a Via-Sacra, nós ensinamos a essas crianças e jovens a amar Jesus e a amar com empatia, compaixão e respeito ao próximo. Neste ano, em especial, ensinamos também a importância de cuidar do meio ambiente, a nossa Casa Comum”, prosseguiu Sueli. 

SOFREU NA CRUZ POR NÓS 

Ao falar aos participantes, o Cardeal Scherer destacou que “a Via-Sacra é um momento forte em defesa da vida, sobretudo de crianças e adolescentes. Um tempo de testemunho público da nossa fé na grande metrópole e de anunciar que o Reino de Deus chegou para transformar as relações humanas e sociais para serem respeitosas, justas, solidárias e fraternas”. 

O Purpurado lembrou que as sextas-feiras da Quaresma são especialmente dedicadas à memória da Paixão de Jesus, que sofreu e morreu na cruz por todos. “A Paixão de Jesus significa o sofrimento Dele, que carregou a cruz por nós. E a cruz de Cristo continua presente na vida de tantas crianças, adolescentes e famílias vítimas da pobreza, da guerra, da fome e de tantas injustiças”, afirmou. 

“Queremos mudança. Queremos menos crianças e adolescentes sofrendo. Que ninguém passe fome, que nenhuma criança ou jovem fique sem educação, e que estejam longe da violência”, enfatizou o Arcebispo de São Paulo. “Hoje, vocês caminharão pelas ruas do Centro clamando e dando voz a tantas outras crianças e adolescentes que também sonham com essa mudança”, concluiu. 

EXPERIÊNCIA QUE MARCA 

Yan Nicolas Barbosa de Oliveira, 11, participa do Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, no Jardim Nove de Julho, na zona Leste de São Paulo. Ele representou Jesus ao longo da Via-Sacra. 

“É uma responsabilidade muito grande e me sinto emocionado ao representar Jesus. Ele não deveria ter passado por isso, nem as crianças deviam sofrer, mas sim deveriam crescer com dignidade”, avaliou. 

Julia Silva, 13, integra o projeto Perfeita Alegria, no Jardim Peri, iniciativa ligada ao Sefras – Ação Social Franciscana. Ela representou Nossa Senhora na 4ª estação: “É uma experiência que marca a vida e que me deixa orgulhosa e abençoada. A Mãe de Jesus acompanhou os passos de seu Filho e acompanha a jornada das crianças e dos adolescentes de hoje”. 

PELOS DIREITOS DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES 

O Padre Douglas da Silva Gonzaga, Assessor Eclesiástico da Pastoral do Menor na Arquidiocese, enfatizou: “Não podemos ficar parados. Viver a Via-Sacra é caminhar na escola de Jesus, na qual a maior lição é sermos mais fraternos e zelosos com o irmão e com o planeta. Esse é o papel da Igreja: criar a consciência e a esperança de um mundo melhor”. 

O Sacerdote destacou ainda que a experiência da Via-Sacra “é a oportunidade de darmos voz e vez às crianças e aos adolescentes, e tornar público seus principais gritos na luta pela garantia dos seus direitos”. 

Também André Gustavo Geraldes, coordenador do Escritório Modelo e professor na Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP), ressaltou que “estar nas ruas traz um simbolismo social importante. Representa a fé e a luta por dignidade e garantia dos direitos da infância e juventude”. 

Frei Tiago Gomes Elias, Vice-presidente do Sefras, explicou que a partir da cruz de Cristo, “somos convidados a fazer o exercício, a experiência de aproximarmo-nos do povo que sofre as chagas sociais e que está nas periferias”. 

“Cuidar da criação e educar para o comprometimento é um ato diário que envolve amor, paixão e compaixão”, disse o Frade. Ele também destacou que em 2025 são comemorados os 800 anos do Cântico das Criaturas, de São Francisco de Assis, os 10 anos da publicação da encíclica Laudato si’, pelo Papa Francisco, e os 25 anos do Sefras. 

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