Por amor a nós, Jesus bebeu o cálice do sofrimento e da dor até o fim

Destacou o Cardeal Scherer na ação litúrgica da Paixão de Cristo na tarde da Sexta-feira Santa, 7, na Catedral da Sé

Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

O relógio marca 15h. Em profundo silêncio, os fiéis se levantam e acompanham a procissão que se encaminha ao presbitério da Catedral da Sé. Em frente ao altar inteiramente desnudado, o Cardeal Odilo Pedro Scherer e os concelebrantes se prostram. Os fiéis se ajoelham. Todos meditam o mistério da Paixão de Cristo, celebrado na Sexta-feira Santa, 7.

“Ó Deus, pela Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, destruístes a morte que o primeiro pecado transmitiu a todos. Concedei que nos tornemos semelhantes ao vosso Filho e, assim como trouxemos, pela natureza, a imagem do homem terreno, possamos trazer, pela graça, a imagem do homem novo”, reza o Arcebispo Metropolitano, rompendo o silêncio no início da ação litúrgica.

OS PADECIMENTOS DE CRISTO ONTEM E HOJE

Após as leituras próprias desta celebração e a proclamação do Evangelho da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo João (Jo 18,1–19,42), o Arcebispo iniciou a homilia, explicando que a celebração da Paixão de Cristo recorda “o conjunto dos padecimentos, desde a agonia de Jesus no horto, passando por sua prisão, a tortura, o desprezo e todas as formas pelas quais Jesus foi vilipendiado antes de ser pregado na cruz e nela morrer”.

O Arcebispo exortou os fiéis a refletir sobre o que teria se passado no coração de Jesus, que mesmo fazendo o bem e trazendo a palavra da Verdade, foi rejeitado, caluniado, insultado de todo o modo em sua dignidade.

Mesmo sabedor de tudo isso, Pilatos lavou as mãos, postura que levou à condenação de um inocente. “Quantas vezes isso acontece ainda hoje? Sabemos que algo é falso, que é mentira, mas não dizemos nada para não nos comprometermos. Hoje se fala de fake news, mentiras e falsidades propagadas para matar, senão fisicamente, moralmente, para prejudicar alguém por toda uma vida. Jesus foi condenado à morte pela fake news que inventaram contra Ele”, ressaltou.

Dom Odilo destacou que ainda hoje muitas são as formas pelas quais Jesus é maltratado no corpo daqueles que vivenciam violências físicas e morais, situações de dor, desprezo, torturas, injustiça, humilhações, discriminações, situações trabalho análogo à escravidão; bem como nas situações de perseguição religiosa.  

ELE REDIMIU A HUMANIDADE

“Jesus bebeu o cálice do sofrimento e da dor até o fim”, comentou o Arcebispo, lembrando que o Senhor em tudo viveu a condição humana para redimir a humanidade de seus pecados, oferecendo sua infinita misericórdia àqueles que se arrependem dos erros, se convertem e aceitam o Evangelho.

“Hoje olhando para a cruz de Cristo, olhemos, com o olhar do coração, como fizeram as pessoas que tiveram a oportunidade de ficar junto da cruz de Jesus, mesmo que em silêncio, mas estavam firmes, compadecendo com Ele, conscientes de que aquele homem era justo. Nós também hoje, junto da cruz de Jesus, conscientes de nossas fragilidades, fraquezas, digamos: ‘Senhor, perdoa. Senhor, tu és meu Salvador. Tu podes curar-me, tu podes ajudar-nos para que nossa vida em comum seja salva, transformada, curada de tantos males que nos afligem”, enfatizou o Arcebispo.

“Que o nosso encontro com Jesus na cruz seja movido pela confiança de que Ele entregou a vida por amor a nós e que continua junto a Deus Pai intercedendo por todos”, comentou, destacando ainda que a cruz de Cristo é o trono da graça da misericórdia e do perdão.

ORAÇÃO UNIVERSAL

Após a homilia, foi realizado um dos momentos mais representativos desta celebração: a Oração Universal, na qual a assembleia reunida reza pela Santa Igreja; pelo Papa; por todas as ordens e categorias de fiéis; pelos catecúmenos; por todos aqueles que creem no Cristo; pelos judeus (aos quais o Senhor Deus falou em primeiro lugar); pelos que não creem no Cristo (a fim de que possam ingressar no caminho da salvação); pelos que não reconhecem a Deus (para que possam chegar ao Deus verdadeiro); pelos poderes públicos/governantes; e pelos que sofrem provações, “a fim de que Deus livre o mundo de todo erro, expulse as doenças e afugente a fome, abra as prisões e liberte os cativos, vele pela segurança dos viajantes e transeuntes, repatrie os exilados, dê saúde aos doentes e a salvação aos que agonizam”.

ADORAÇÃO DA CRUZ

Na sequência, pelo corredor central da Catedral, houve a entrada da cruz, ainda encoberta com um pano vermelho. No presbitério, ao declamar “Eis o lenho da cruz”, o Arcebispo lentamente a desnudou. Ele foi o primeiro a beijar os pés da cruz e este gesto foi repetido pelos concelebrantes e os servidores do altar.

Depois, a adoração à cruz foi feita pela assembleia de fiéis. Por cerca de 30 minutos, em procissão, adultos, jovens, crianças e idosos tocaram o ‘Fiel madeiro da Santa Cruz’, como se ouvia em um dos cânticos, enquanto meditavam os mistérios da Paixão, em meio a explicações feitas por Dom Odilo sobre este momento central da fé cristã.

COLETA AOS LUGARES SANTOS

Durante esta ação litúrgica, também foi realizada a coleta para os lugares santos, onde Jesus nasceu e viveu, a qual também se destina para outros locais mencionados nas Sagradas Escrituras, e cuja a manutenção atual das ações evangelizadoras da Igreja Católica e do testemunho dos cristãos só é possível com a ajuda financeira dos fiéis de todo o mundo.

COM CRISTO À ESPERA DA RESSURREIÇÃO

Posteriormente, foi estendida sobre o altar a toalha e o corporal, rezou-se a oração do Pai Nosso e teve sequência o rito da comunhão.

Antes proferir a oração sobre o povo, pela qual se concluiu a ação litúrgica, o Arcebispo destacou que o Tríduo Pascal não se encerra com a celebração da Paixão de Cristo, de modo que no Sábado Santo os católicos devem se manter em atitude de oração, preparando-se para participar da solene Vigília Pascal e, no dia seguinte, do Domingo da Páscoa da Ressurreição do Senhor.

Ainda na Sexta-feira Santa, após a ação litúrgica, houve a procissão pelas ruas próximas à Catedral da Sé, tendo a frente a cruz com o lençol e as imagens do Senhor Morto e de Nossa Senhora das Dores. No retorno à Igreja Mãe da Arquidiocese, houve a reflexão sobre o Sermão das 7 Palavras, conduzida pelo Padre Fernando José Carneiro Cardoso, diretor da Escola Diaconal São José da Arquidiocese de São Paulo.

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