Professora Alzira Altenfelder: uma vida dedicada à educação e à transmissão da fé no campo acadêmico

Arquivo Pessoal

O olhar atento para as mais diferentes situações vivenciadas por seus alunos, familiares e professores com quem conviveu tornou-se um marco na vida da professora Alzira Altenfelder Silva Mesquita, falecida no último dia 13, aos 104 anos, em São Paulo.

Tal particularidade foi recordada por sua nora, a também professora Lilian Brando Garcia Mesquita, que em entrevista ao O SÃO PAULO contou que, por isso, Alzira se transformou em confidente de muitos de seus alunos, mesmo após se tornarem adultos. 

DESPEDIDA

A missa de 7o dia da professora Alzira foi realizada na capela da Universidade São Judas, na segunda-feira, 19, e presidida pelo Padre Júlio Lancellotti, Pároco da Paróquia São Miguel Arcanjo, na Região Episcopal Belém e Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo.

Em sua homilia, Padre Júlio rememorou o testemunho da educadora: “Queremos agradecer pelo dom da sua vida centenária dedicada à educação, em especial à educação católica, à Igreja. Aqui nessa capela, esteve ao longo desses 35 anos, e por isso, está cheio de memórias e caminho. Dona Alzira viveu intensamente a sua fé, agora ela está diante de Deus. Nós temos que, com saudade, mas com a força da fé, agradecer a Deus pelo seu testemunho que é um exemplo para nós e será para sempre. Essa capela será sempre um sinal da professora Alzira. Nunca esqueceremos o seu olhar, sorriso, a sua presença firme, marcante, altiva e mestre de quem sempre ensinou”.  

A EDUCAÇÃO

Juntamente com seu esposo, o professor Alberto Mesquita Camargo (falecido em 1995), Alzira fundou, em 1953, o Colégio São Judas, na Mooca, zona Leste da cidade. Mais tarde, em 1971, o casal inaugurou as faculdades São Judas, hoje universidade responsável por formar mais de 28 mil alunos.

A missão no campo acadêmico é, segundo Lilian, um dos legados de sua sogra que “demonstrava que a educação é o único fator de promoção humana. E conseguia concretizar plenamente esse ideal, acolhendo cada aluno como um ser único, merecedor de atenção individualizada”, salientou.

A nora de Alzira rememorou, ainda, as palavras de sua sogra publicadas no livro “Educação, nossa paixão, nossa razão”, da editora Universidade São Judas Tadeu, de 2008: “Sabemos e compreendemos que todos devem estudar, mas não podemos compreender que não se faça mais a seleção de valores, uma vez que as diferenças de inteligências estão aí aos nossos olhos”.

MULHER DE ORAÇÃO

Outra característica da professora Alzira foi sua fé e a inspiração cristã instalada por ela no campo acadêmico. A educadora promovia aulas de catecismo e semanalmente – após o término das aulas matutinas – convidava os alunos, professores, funcionários para a celebração da Santa Missa no Colégio São Judas e incentivava a organização de grupo de jovens voltados para a formação cristã. Conforme realçado por Lilian, porém, jamais desrespeitou alunos ou frequentadores do espaço que processassem outras religiões.

“O que sempre chamou a minha atenção foi o seu comportamento nas mais diversas situações. A fé em Deus, no potencial das crianças e dos jovens, a esperança de que seu trabalho poderia contribuir para o bem comum e a caridade eram muito visíveis em todas as suas relações – quer com alunos e familiares, quer com professores e funcionários.  Ao encarnar de forma tão natural às três virtudes teologais, influenciou muitos que com ela conviveram. Deixou um belo testemunho de uma vida cristã”, refletiu Lilian.

Em 2017, a professora Alzira foi contemplada com pela Medalha São Paulo Apóstolo, na categoria menção honrosa, promovida pela Arquidiocese de São Paulo, a premiação pretende reconhecer e homenagear pessoas e instituições que se destacaram em diversas atividades e contribuíram com a missão evangelizadora da Igreja na cidade.

Na oportunidade, seu neto, Carlos Alberto Mesquita, representou a avó e em seu discurso falou:  “Ainda hoje, minha avó, vai três vezes por semana ao Colégio São Judas, fica na secretaria assinando documentos e atendendo as pessoas. Além de frequentar a missa semanal na capela da Universidade São Judas Tadeu. Ela é um exemplo de vida, no qual nos espelhamos diante de qualquer dificuldade”.

MUITAS VIRTUDES

A presença marcante e as longas horas de conversa foram outros traços da vida da professora Alzira citados por sua nora, recordando, também, que a sogra foi uma mulher bem-humorada, brava em momentos necessários, corajosa, exigente, carinhosa, brincalhona, rigorosa e determinada.

“Desconhecia a palavra preguiça. Com chuva ou com sol, não perdia a Missa do domingo, era o grande momento de sua semana. Seguir rotinas de trabalho, de orações, de visitas nunca foi entendido por ela como obrigação. Significava a vida a ser vivida em plenitude. Deixa exemplos, ensinamentos e muita saudade”.

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