Francisco traduz a imagem da Igreja que abraça o seu rebanho com ternura

Vatican Media/Arquivo – 2015

Primeiro papa oriundo de um país do Hemisfério Sul, latino-americano de nascimento e único Pontífice não euro­peu em mais de um milênio, Francis­co, durante 12 anos como sucessor de Pedro, deixa um legado considerável à história eclesiástica.

Sua escolha, em 2013, marcou o início de uma atenção geográfica mais ampla na Igreja, que hoje congrega 1,4 bilhão de fiéis em 196 países, de ma­neira a acompanhar o expressivo cres­cimento do catolicismo na África e na Ásia desde o fim do século XX. Nesses continentes, nos últimos 50 anos, o au­mento do número de católicos superou o crescimento total da população.

ÁFRICA

Nos dois mais recentes relatórios di­vulgados pela Secretaria de Estado do Vaticano, cujos dados foram extraídos do Annuario Pontificio 2025 e do Annua­rium Statisticum Ecclesiae 2023, o maior número de conversões foi observado na África, que embora ainda tenha uma quantidade menor de católicos que no continente americano, abriga 20% dos católicos do mundo e passou de 272 mi­lhões em 2022 para 281 milhões de fiéis em 2023, registrando o maior aumento percentual de todos os continentes, com um aumento de 3,31% de novos conver­tidos, ante uma média do crescimento populacional de 2,8%.

A República Democrática do Con­go é confirmada em primeiro lugar no número de católicos batizados no con­tinente africano, com quase 55 milhões, seguida pela Nigéria, com 35 milhões. Uganda, Tanzânia e Quênia também registram números respeitáveis.

Em relação ao número de sacerdo­tes por área geográfica, houve um cres­cimento de 2,7% no continente afri­cano. Lá, há um aumento de cerca de 3,3% nos padres diocesanos e de 1,4% nos religiosos.

Quanto às vocações, a África conti­nua sendo o continente em que o nú­mero de seminaristas não conhece de­clínio: os seminários africanos abrigam 35 mil candidatos rumo ao sacerdócio no período do levantamento dos dados e a tendência é de crescimento.

ÁSIA

Filipinas foto

O continente asiático registra um crescimento de fiéis de 0,6% no biênio, abrigando cerca de 11% dos católicos do mundo. 76,7% dos católicos do Su­deste Asiático estão concentrados nas Filipinas, com 93 milhões, e na Índia, com 23 milhões. O Líbano também abriga um número considerável de ca­tólicos e Timor-Leste é a nação com a maior proporção de católicos na popu­lação, com 96%.

A Ásia abriga 18,2% do total de sacerdotes católicos no mundo e as es­tatísticas indicam um crescimento de 1,6% no número de clérigos na região. A distribuição percentual dos semina­ristas maiores por continente mostra mudanças modestas no biênio con­siderado. A África e a Ásia contribu­íram com 61,0% do total mundial em 2022, uma porcentagem que subiu para 61,4% em 2023.

POSTURA DE FRANCISCO

Sensível a essa nova realidade e en­tusiasta da “cultura do encontro”, Fran­cisco intuiu que era preciso fazer com que a Igreja seguisse as pegadas do seu rebanho e fosse-lhe ao encontro, não somente para guiá-lo como também para dar-lhe voz.

Assim, em seu pontificado, criou 108 cardeais (18 deles africanos e 20 asiáticos) em diversos países e pro­porcionou representatividade a 24 nações até então não contempladas, como Mongólia, Irã, Laos, Sérvia, Pa­pua-Nova Guiné e Máli, por exem­plo, o que fará com que este Conclave seja o mais internacional da história.

Para efeito de comparação, em 2013, quando Francisco foi eleito, o número de países representados não passou de 50. No presente Conclave, são 135 cardeais aptos a votar (dois deles não participarão por questões de saúde): 80% nomeados por Francisco; 16% por Bento XVI; e 4% por São João Paulo II, oriundos de 70 países.

INFLUÊNCIA EM CONFLITOS

dia oracao libano

Francisco sempre se demonstrou convicto de seu papel como líder na re­solução de conflitos. Tinha ciência de que o mundo está vivendo um cenário internacional instável, com guerras re­gionais relevantes, e mesmo enfermo, durante os Angelus aos domingos na Praça São Pedro, sempre pedia orações por diversos países, entre eles Líbano, “a martirizada” Ucrânia, Israel, Repú­blica Democrática do Congo, Mianmar e Sudão do Sul, e mostrava sensibili­dade às pessoas que sofriam naquelas circunstâncias.

Exemplo disso é a ligação íntima com a população cristã em Gaza. São cerca de 600 cristãos em uma popula­ção de 2 milhões de habitantes, a maio­ria muçulmana.

O Vaticano diz que, em 18 meses de guerra, o Papa ligou toda noite para a Igreja da Sagrada Família na cidade de Gaza para saber como estavam. Ele conversava com o Padre Gabriel Ro­manelli e também com outras pessoas comuns que estavam por lá.

O último telefonema foi no dia 19, à noite. No Domingo de Páscoa, 20, al­gumas horas antes de morrer, o Papa, na mensagem “Urbi et Orbi”, pediu um cessar-fogo em Gaza e a libertação dos reféns israelenses. Ao todo, foram mais de 500 ligações para o local.

A postura do Papa após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 irritou muitos israelenses, que acreditavam que ele tinha uma falta de sensibilidade para questões judaicas. Apesar dessas críticas, Francisco procurou continuar o traba­lho dos predecessores, Bento XVI e João Paulo II, de aproximar a Igreja Católica dos líderes do Judaísmo.

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