Papa e líderes cristãos se unem em jornada de reflexão e oração pelo Líbano

Papa Francisco reza segurando a bandeira do Líbano, durante audiência geral em 2 de setembro de 2020 (foto: Vatican Media)

Na quinta-feira, 1º de julho, o Papa Francisco acolherá, no Vaticano, os líderes de todas as igrejas cristãs presentes no Líbano para um dia de oração e reflexão pela paz nesse País do Oriente Médio que vive uma crise política, econômica e social sem precedentes.

O evento contará com as presenças dos patriarcas das igrejas católicas de rito oriental Maronita e Greco-Melquita, dos chefes das igrejas Ortodoxa Antioquena, Apostólica Armênia da Cilicia, Siro-Ortodoxa e do Concílio Supremo da Comunidade Evangélica.

“Junto com os líderes de todas as Igrejas presentes no País dos Cedros, vamos nos deixar inspirar pela Palavra da Escritura que diz: ‘O Senhor Deus tem planos de paz’ (Jr 29,11). Convido todos a se unirem espiritualmente a nós, rezando para que o Líbano possa se recuperar da grave crise que está passando e mostre mais uma vez ao mundo a sua face de paz e esperança”, afirmou o Papa Francisco, após a oração do Angelus do domingo, 27.

Programação

Os chefes das igrejas se hospedarão na Casa Santa Marta, residência do Pontífice, onde começará a programação de atividades que se estende até o início da noite.

Após serem acolhidos, pela manhã, os líderes religiosos seguirão com o Santo Padre até a Basílica de São Pedro onde, juntos, rezarão o Pai-Nosso e, sem seguida, descerão até o local onde estão os restos mortais de São Pedro e, ao acenderem uma vela cada, pedirão a intercessão do Apóstolo.  

A programação se seguirá com uma mesa redonda no Palácio Apostólico, moderada pelo Núncio Apostólico no Líbano, Dom Joseph Spiteri. Entre a manhã e a tarde, haverá três sessões de trabalho.

“Durante o evento não poderemos vê-los ou ouvi-los, porque as portas da Sala Clementina da Residência Apostólica permanecerão fechadas aos nossos olhares; a portas fechadas, no Cenáculo, os apóstolos permaneceram unidos na oração, com Maria, e receberam o dom do Espírito que lhes deu a coragem do anúncio”, explicou o Cardeal Leonardo Sandri, Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, ao apresentar o programa à imprensa.

Santuário de Nossa Senhora do Líbano, em Harissa, um dos símbolos do país (reprodução da internet)

Oração ecumênica

Às 18h (13h no Brasil), o Papa e os líderes religiosos seguirão em procissão novamente até a Basílica de São Pedro, onde haverá uma oração conclusiva, que também contará com a presença do corpo diplomático credenciado junto à Santa Sé e foram convidadas todas as comunidades religiosas e fiéis leigos libaneses residentes em Roma.

Será feita uma oração ecumênica com a proclamação de algumas passagens da Palavra de Deus, alternadas com orações e cantos das diferentes tradições rituais presentes no Líbano, com textos em árabe, sírio, armênio e caldeu.

O Papa Francisco que fará um discurso conclusivo que, segundo o Cardeal Sandri, “irá conter apelos e considerações, fruto das reflexões daquele dia que poderão ser indicações para o futuro do Líbano”.

A crise

A crise libanesa – a maior desde a Guerra Civil entre 1975 e 1990 – começou em 2019, quando o sistema bancário do país começou a apresentar escassez de dólares e variações cambiais repentinas. Com isso, vieram à tona denúncias de corrupção contra os governantes, que forçaram a renúncia do então primeiro-ministro Saad Hariri.  

O novo governo, instaurado em janeiro de 2020, não conseguiu dar continuidade à negociação de um empréstimo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em uma tentativa de quitar a dívida pública de 86 bilhões – equivalente a 150% do PIB do país que já foi conhecido como a “Suíça do Oriente Médio” por sua prosperidade social e econômica.

Antes mesmo do início da pandemia de COVID-19, o Banco Mundial estimava que metade da população libanesa seria empurrada abaixo da linha da pobreza em 2020. Além da alta inflação, os serviços básicos foram afetados, como abastecimento de água, eletricidade, internet, remédios e os preços dos alimentos, em grande parte importados, dispararam.

Zona portuária de Beirute após explosões de agosto de 2020 (reprodução da internet)

Explosões

A situação se agravou com as explosões que atingiram a zona portuária da capital libanesa, Beirute, em 4 de agosto de 2020, deixando 220 mortos, 6,5 mil feridos e cerca de 300 mil desabrigados.

Após as explosões aconteceram vários protestos pelas ruas de Beirute, pedindo a destituição do atual governo, acusado como principal responsável pela crise. A pressão das manifestações levou o primeiro-ministro, Hassan Diab, a renunciar ao cargo em 10 de agosto.

A população também acusou as autoridades de negligência, pelo fato de explosões terem sido provocadas por incêndio que atingiu um depósito onde estava armazenada, de forma irregular, uma grande quantidade de nitrato de amônio, substância de alta capacidade explosiva quando exposta a temperaturas elevadas.

Novo governo

Em 22 de outubro de 2020, o sunita Saad Hariri, foi novamente eleito primeiro-ministro e encarregado de formar um novo governo, mas desde então não conseguiu formar o novo gabinete, em parte devido às tensões institucionais que surgiram entre o premier encarregado e o presidente Aoun em torno da lista de ministros que deveriam compor a equipe do governo.

No Líbano, o poder político é partilhado entre as principais religiões do país. Assim, segundo a constituição do país, o presidente da república deve ser sempre um cristão maronita, enquanto o primeiro-ministro é um muçulmano sunita e o presidente o parlamento, um muçulmano xiita.

Enquanto isso, a pobreza cresce no País e mais de 60% dos libaneses vivem abaixo da linha de pobreza.

Encontro dos líderes cristãos no Patriarcado Maronita (foto: Patriarcado Maronita)

Preocupação das igrejas

No dia 8 de junho, patriarcas e bispos das igrejas presentes no Líbano se reuniram na sede do Patriarcado Maronita para discutir as questões e problemas a serem apresentados na mesa redonda convocada pelo Papa.

Segundo a Agência Fides, todos os participantes dessa reunião reiteraram a necessidade urgente de formar um novo governo e sair da paralisia institucional que parece estar minando a própria existência da estrutura nacional libanesa, aparentemente incapaz de lidar com os efeitos devastadores da crise econômica e social na vida cotidiana de grande parte da população.

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