Pontifícia Comissão para a América Latina tem nova coordenação

Papa Francisco nomeia filósofo mexicano e teóloga argentina para organismo que estuda soluções e dialoga com os bispos

CISAV

A partir de setembro, um filósofo mexicano e uma teóloga argentina passam a coordenar os trabalhos da Pontifícia Comissão para a América Latina. Em 26 de julho, o Papa Francisco nomeou dois novos pensadores latino-americanos para seus cargos mais estratégicos: como secretário da Comissão, foi escolhido o professor Rodrigo Guerra López; e a nova chefe administrativa é a professora Emilce Cuda.

Esse grupo de trabalho, com sede no Vaticano, tem como objetivo estudar o catolicismo latino-americano e propor soluções para a região e para toda a Igreja, em colaboração com a Cúria Romana e os bispos locais. Estima-se que ao menos 40% dos católicos estejam na América Latina – quase 500 milhões de pessoas. Aproximadamente 60% dos latino-americanos se identificam como católicos.

A seguir, entenda o que é a Pontifícia Comissão para a América Latina e quem são os novos coordenadores escolhidos pelo Papa Francisco.

A Comissão

Naturalmente, a Pontifícia Comissão para a América Latina ganhou notoriedade ainda maior no pontificado do Papa Francisco – o primeiro papa latino-americano da história. Foi fundada, porém, em 1958 pelo Papa Pio XII e potencializada por São João Paulo II em sua reforma das estruturas da Cúria Romana, em 1988.

O Papa polonês buscava promover “especial solicitude pastoral do Sucessor de Pedro” para a Igreja da América Latina, que ele chamava de “continente da esperança”.

Também é trabalho da Comissão manter contato regular com o Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), além de acompanhar as conferências episcopais do continente e as confederações de religiosos e pessoas de vida consagrada.

A Comissão tem bastante autonomia, mas está inserida na Congregação para os Bispos. É composta de conselheiros e membros nomeados pelo Papa. O Presidente é o Prefeito da Congregação, atualmente o Cardeal Marc Ouellet – por sinal, grande conhecedor dos temas da América Latina, pois viveu e foi formador de seminários na Colômbia.

É comum que o Papa se comunique com os bispos da América Latina por meio do cardeal-presidente da Comissão. Em maio, por exemplo, o Cardeal Ouellet enviou mensagem aos membros da assembleia geral do Celam fazendo um “apelo à evangelização e à colaboração entre as igrejas do continente, para que possam cumprir a sua missão fundamental, e Jesus Cristo seja conhecido, amado e testemunhado pelo povo de Deus”, informou o site Vatican News.

Nova administração

O secretário da Comissão é responsável por coordenar os trabalhos. Até pouco tempo atrás, o renomado jurista e acadêmico uruguaio Guzmán Carriquiry Lecour era quem liderava o dia a dia das atividades.

Nomeado secretário pelo Papa Bento XVI, foi o primeiro leigo a ocupar um cargo de dirigente na Cúria Romana, após atuar em diferentes funções no Vaticano desde os anos 1970. Acumulou a posição de vice-presidente, nomeado pelo Papa Francisco, antes ocupada apenas por bispos. Hoje, Lecour é embaixador do Uruguai junto à Santa Sé.

Por cerca de um ano, de julho do ano passado até aqui, o comunicador e ex-embaixador boliviano Julio César Caballero esteve à frente da Comissão no cargo de “chefe administrativo”. Caballero voltou a se colocar a serviço do governo boliviano e agora deixa a função.

Não havia sido nomeado um novo secretário, que será o mexicano Rodrigo Guerra López. Ele já era membro da Pontifícia Academia para a Vida e da Pontifícia Academia das Ciências Sociais. É filósofo, antropólogo e escritor de muitos livros e artigos, em sua maioria relacionando o pensamento filosófico às questões sociais, aplicando a ética e a Doutrina Social da Igreja a problemáticas políticas, aos temas da família e aos direitos humanos.

No livro “Afirmar a pessoa por si mesma”, de 2003, ele faz uma fundamentação filosófica dos direitos humanos. López afirma a dignidade intrínseca da pessoa humana. “Os direitos da pessoa não são nenhum luxo. Eles são a base para que possa se dar igualdade na liberdade, a partir da mútua corresponsabilidade”, escreve.

Na nova função de chefe administrativa estará a professora Emilce Cuda, docente de Teologia Moral da Universidade Católica Argentina e da St. Thomas University, nos Estados Unidos. Ela é internacionalmente conhecida no meio acadêmico católico, especialmente por interpretar o pontificado do Papa Francisco à luz da chamada “teologia do povo”, fundada pelo Padre jesuíta Juan Carlos Scannone.

É autora do livro “Para ler Francisco”, em que estuda os gestos políticos e pensamentos do primeiro Papa argentino, sempre o associando aos fundamentos da teoria e da prática pastoral de seu país. Emilce também é consultora do Celam.

Brasileiros membros

Atualmente, os cardeais brasileiros membros da comissão são Dom Sergio da Rocha, Arcebispo de São Salvador da Bahia, e Dom Orani Tempesta, Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro. Também é membro da Comissão o Arcebispo de Brasília (DF), Dom Paulo Cezar Costa. Além disso, o secretário do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, o Padre brasileiro Alexandre Awi Mello, atua como conselheiro da Comissão.

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