A arte de disciplinar os filhos

As crianças chegam ao mundo bastante pequenas e desprotegidas, incapazes de sobreviverem sem a ajuda e os cuidados de seus pais. É muito claro para todos que o bebê, bem como a criança pequena, precisa de cuidado físico para sobreviver e, nesse tipo de cuidado, poucas dúvidas aparecem.

No entanto, quando se trata do cuidado emocional, afetivo e moral, quantas dúvidas e dificuldades! Quantas confusões foram introduzidas em nosso imaginário. Somos hoje pais inseguros, despreparados para formar os filhos para a vida.

Por um lado, temos aqueles que buscam uma conduta que ensine sem tirar do conforto por medo de ressentimentos, mágoas e traumas. Por outro lado, não podemos esquecer dos pais autoritários e egoístas, que acabam por querer ensinar “no tapa”, ou seja, do modo mais rápido e cômodo para si mesmos, sem considerar o melhor para a criança.

Nenhuma dessas maneiras levará a criança a uma vida saudável e equilibrada. Ambas as condutas podem ser desastrosas no que diz respeito a formar pessoas lúcidas, livres e felizes; pessoas que encontrem um sentido mais sólido em suas vidas e que vivam tendo em vista o bem comum.

Vamos, então, a uma reflexão breve, porém necessária, sobre a importância de disciplinar os filhos. Meu objetivo é que, entendendo a grandeza desse ato, muitos se conscientizem de que precisam crescer e se aperfeiçoar nessa arte de disciplinar os filhos.

Iniciemos por uma definição etimológica: a palavra veio do latim – disciplina, “instrução, conhecimento, matéria a ser ensinada”. E esta deriva de discipulus, “aluno, aquele que aprende”, do verbo discere, “aprender”.

A relação originária das palavras disciplina e discípulo, por si só, já nos remete a um modo bastante interessante de compreender a ação de disciplinar – trata-se de transmitir ao aprendiz, ao discípulo, aquilo que o mestre aprendeu em sua experiência de vida, nos estudos que empreendeu, nas relações que estabeleceu ao longo de sua vida. Ou seja, aquele que disciplina está transmitindo ao seu aprendiz um tesouro, um legado, um caminho que considera seguro para guiar o discípulo nos desafios da vida.

Como não identificar essa ação com a missão dos pais? Se os pais não disciplinarem os seus filhos, quem o fará? Os tombos e cabeçadas que derem na vida?

Lembrem-se: a omissão é abandono. Não oferecer aos filhos um caminho, não ensinar os critérios, por medo de “traumatizar”, por preguiça ou comodismo, é abandoná-los à própria incapacidade de se autoguiarem pelos caminhos da vida. Quem ama educa, forma, disciplina.

Vamos refletir brevemente sobre alguns aspectos para que isso aconteça de modo adequado:

1. Ter um vínculo bem formado, marcado pela presença ativa, pela comunicação afetiva saudável – estar envolvido com os filhos, atentos às suas necessidades;

2. Identificar os valores sólidos que conduzem a sua vida e, desde cedo, buscar estratégias para transmiti-los aos filhos – a cada etapa isso se dará de um modo diferente: no início muito mais com ações do que com palavras, com exemplos, estabelecimentos de limites claros, e com o passar do tempo com mais conversas, argumentações, leituras, experiências conjuntas;

3. Coerência – o mestre precisa lutar para viver aquilo que espera transmitir ao discípulo, caso contrário, não terá autoridade suficiente para conduzi-lo;

4. Firmeza – a clareza de objetivos e a consciência da importância da missão precisam despertar nos pais a certeza de que estão fazendo um bem e que, portanto, apesar das resistências é preciso manter-se firme, conduzir o processo de modo assertivo e constante. Nenhuma aprendizagem acontece instantaneamente, demanda tempo.

Quando os pais se percebem mestres na arte de viver, tomam contato com a imensa responsabilidade e a grande oportunidade que isso supõe – não abram mão dessa riqueza – mesmo que hoje resistam e reclamem, no futuro podem ter certeza: seus filhos lhes agradecerão.

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