Missão Belém conclui 37 dias de oração do Terço pelo Haiti

País centro-americano sofre com tensões sociais e políticas e com a crise sanitária que afeta especialmente os mais pobres

Missão Belém – jan.2019

A população do Haiti, na América Central, tem vivenciado desde setembro um cenário ainda mais caótico do que já se habituou nos últimos anos. Após a decisão do governo de acabar com o subsídio de combustíveis, os preços da gasolina, diesel e querosene aumentaram em cerca de 50%, e manifestações se espalharam pelo país. Além disso, gangues bloquearam o principal porto do Haiti e passaram a fazer grandes crateras em algumas ruas da capital, Porto Príncipe. 

Não demorou para que os impactos fossem sentidos: transportes públicos afetados, hospitais interrompendo atendimentos, aulas suspensas e desabastecimento de alimentos e de água potável, atingindo especialmente a população mais pobre. Parte dos problemas foram atenuados no começo deste mês, após o governo retomar o controle do maior terminal petrolífero, mas o clima de tensão permanece. 

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Presente no Haiti desde 2010, a Missão Belém, que tem o seu centro de atuação na favela de Warf Jeremie, em Porto Príncipe, também teve seus trabalhos impactados e os missionários acompanharam de perto o drama da população mais pobre. 

“Onde a Missão Belém está instalada, não há oferta de água potável, e o abastecimento só é possível com caminhão-pipa, mas todas as vias estavam bloqueadas. Ficamos completamente sem água e sem ter como nos abastecer de alimentos. Na região, o povo começou a cavar buracos no próprio terreno, que está em uma área de lixão, para buscar água subterrânea, mas essa água é extremamente contaminada. Com isso, começaram a chegar ao nosso centro de atendimento pessoas com problemas de pele e houve uma explosão de casos de cólera, castigando ainda mais o povo em toda a cidade”, detalhou a Irmã Cacilda da Silva Leste, cofundadora da Missão Belém. 

SANTO TERÇO PELO HAITI 

Diante desse cenário caótico, a Missão Belém decidiu unir todas as suas casas, no Haiti e Brasil, para a reza conjunta do Terço, sempre ao meio-dia, de modo on-line. A iniciativa começou em 4 de outubro e ocorreu de modo ininterrupto por 37 dias, sendo concluída em 9 de novembro, com a participação do Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo. 

“Quando começamos o Terço, estávamos muito angustiados e preocupados, pois tinha acabado a nossa reserva de água para beber ou fazer higienização. Os alimentos também eram poucos. E pedimos que o senhor, Dom Odilo, pudesse rezar com a gente, pedindo a intercessão de Nossa Senhora pelo Haiti. Já no dia seguinte, deu uma grande chuva que encheu uma boa parte dos nossos reservatórios em Porto Príncipe, o que nos permitiu fazer uma boa reserva de água. Dali em diante, praticamente em quase todo o dia choveu, o que é incomum naquela região, e muitos sobreviveram graças a esta água que veio do céu”, recordou o Padre Gianpietro Carraro, fundador da Missão Belém. 

Antes da reza do Terço com o Cardeal Scherer, Padre Gianpietro e a Irmã Cacilda detalharam as dificuldades que a população do Haiti tem enfrentado e como a Missão Belém atua para atenuar o sofrimento dos mais pobres. Desde a volta, em outubro, dos casos da cólera – doença bacteriana infecciosa intestinal aguda, transmitida por contaminação fecal-oral direta ou pela ingestão de água ou alimentos contaminados – foram atendidas cerca de 180 pessoas com a doença na enfermaria mantida pela Missão. A maioria foi encaminhada para hospitais e se recuperou, mas oito morreram, entre as quais seis crianças. 

Após ouvir os relatos, Dom Odilo disse que se trata de um cenário dramático, que afeta a dignidade humana, e fez votos de que a situação melhore: “Deus continua amparando o trabalho e mostrou que Sua Providência não falha”. 

A reza do Santo Terço teve a primeira parte feita em crioulo haitiano, língua nativa, pelos atendidos e membros da Missão Belém no Haiti – incluindo um grupo de 500 crianças que estava em uma igreja; já a segunda parte foi em português. 

Ao final da oração, Dom Odilo concedeu a bênção ao Haiti, e enalteceu o trabalho dos missionários naquele país, chamando-os de “testemunhas do carinho de Deus, e não do ódio, da raiva, da violência; mas da presença amorosa de Deus. Continuem com muita dedicação e coragem”, exortou. “A Providência de Deus é grande para não deixar faltar o necessário para vocês e para todo o povo”, afirmou. 

INCIDÊNCIA DAS AÇÕES 

De acordo com o Padre Gianpietro, atualmente 2,7 mil crianças são atendidas no centro da Missão Belém, em Porto Príncipe, onde também há catequeses diárias, projetos nas áreas de saúde, nutrição e de profissionalização para adolescentes e jovens. Neste ano, bem como em 2021, 100% das crianças que estudam no local foram aprovadas na prova de avaliação do ensino feita pelo governo local, resultado que só foi alcançado por um único colégio particular do país. 

“Esperamos que nosso trabalho seja um ponto de apoio para formar a consciência destas crianças, rezamos para que algumas delas possam se tornar líderes, até na política, com uma mentalidade diferente”, comentou durante a live o Padre Gianpietro. 

A Missão Belém também está construindo uma unidade básica de saúde em seu centro de atendimento, que será devidamente equipada em até dois meses. Atualmente, oito médicos e cerca de 20 enfermeiros trabalham na atenção de saúde à população. 

DOAÇÕES PARA AJUDAR OS TRABALHOS DA MISSÃO BELÉM PODEM SER FEITAS PELOS SEGUINTES MEIOS: 

Chave PIX: 11.413.244/0001-12 (CNPJ) 
https://www.missaobelem.org/doacao

Por Daniel Gomes e Fernando Arthur

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