Em São Paulo, empório solidário de orgânicos tem foco no pequeno produtor familiar

Cooperapas

Localizado na Rua Major Sertório, 229, no Centro da capital paulista, o Instituto Feira Livre vende produtos orgânicos adquiridos direto dos pequenos produtores, a preço de custo. Essa organização sem fins lucrativos promove os conceitos de economia solidária e responsabilidade social, com os valores dos itens nas gôndolas sendo repassados ao produtor rural.

Em 2022, mais de 200 produtores forneceram alimentos orgânicos ao Instituto Feira Livre. Ao todo, foram 11 toneladas de bananas; 9 toneladas de tomates; 5 mil maços de couve; 2 toneladas de morangos, entre outros produtos, e foram servidos quase 5 mil almoços na Feira.

Entre os parceiros estão os agricultores da Cooperativa Agroecológica dos Produtores Rurais e Água Limpa da Região Sul de São Paulo (Cooperapas), de Parelheiros, e da Associação de Agricultores da Zona Leste (AAZL), de São Mateus, na zona Leste.

Os alimentos orgânicos são cultivados em hortas familiares e de maneira sustentável, sem o uso de agrotóxicos, adubos químicos e aditivos sintéticos. Trata-se de uma técnica que, além de preservar o meio ambiente, resulta em alimentos ricos em nutrientes.

ECONOMIA E RESPONSABILIDADE SOCIAL

O Instituto Feira Livre foi fundado em 2017. É uma associação sem fins lucrativos que promove o acesso a produtos orgânicos. Sua proposta é estabelecer relações comerciais justas com todos os atores da cadeia produtiva, conectando quem produz a quem consome.

Instituto Feira Livre

Quem chega ao local encontra uma feira, uma mercearia e um café, somente com produtos orgânicos e agroecológicos. O local também acolhe e apoia atividades relacionadas à educação e cultura.

Victor Felipe Pereira Barbosa é membro associado do Instituto. “É por meio do comércio de produtos do campo e da economia solidária que o Instituto Feira Livre coloca em prática seus ideais de liberdade e democracia; de incentivo aos pequenos produtores rurais e preservação do meio ambiente”, disse ao O SÃO PAULO, detalhando que o Instituto é formado por dez associados.

Barbosa salientou que a pandemia afetou bastante os pequenos produtores e as atividades do Feira Livre. “Mesmo com tantas dificuldades, é bonito ver a resistência e a difusão da agricultura familiar, em forma de alimentos livres de veneno. Nessa retomada, continuamos acreditando na autogestão como ferramenta de organização e em uma forma de economia mais justa, que possibilite acesso a alimentos com qualidade e sustentabilidade”, disse.

COMPROMETIDOS COM A CAUSA

O Instituto Feira Livre compra os alimentos orgânicos diretamente do produtor, diminuindo o custo com os intermediários. Assim, o consumidor paga pelo produto diretamente o que é cobrado por seu produtor rural.

“É o produtor quem define o valor do seu produto e é esse valor que o nosso frequentador – é assim que chamamos quem compra em nossa sede – paga, a princípio. Depois, sugerimos uma taxa de 35% sobre o valor para a manutenção das despesas do espaço”, detalhou Barbosa, reforçando que a ideia do espaço não é de promover a simples comercialização dos itens, mas também “mostrar quem planta, quem colhe e quem compra. É uma troca que cria vínculos e visibiliza a importância do pequeno produtor que está comprometido com a causa”, pontuou.

Na Feira Livre, os alimentos in natura ganham mais ressalte perante uma sociedade em que só aumenta o consumo de ultraprocessados. Há opções de frutas e verduras frescas, itens de mercearia e até congelados, a preço de fábrica. Nas gôndolas estão os custos que o produtor teve para cada item, em uma somatória de insumos, manutenção, mão de obra e transporte.

“Amo este lugar, pois além de alimentos saudáveis, vemos a transparência do negócio que inclui e prioriza o pequeno agricultor e o planeta”, afirmou Cristina Silva, 23, que aproveita as manhãs de sábado para as compras de frutas e legumes no Instituto Feira Livre.

PARCEIROS

Valéria Macoratti é vice-presidente da Cooperapas, em Parelheiros e agricultora familiar. A Cooperapas surgiu em 2011 e é formada por 35 associados que somam forças na produção de alimentos orgânicos, preocupados com a preservação da natureza, de modo particular, o remanescente de Mata Atlântica presente na capital.

À reportagem, ela contou que o sustento da sua família e dos agricultores associados provém do plantio de orgânicos que são vendidos ao Instituto Feira Livre, na sede da Cooperapas e em outras feiras da região: “O nosso sustento provém da terra. Assim, é nosso compromisso cuidar do solo, das águas e do ar, e, também, garantir alimentos saudáveis e livre de agrotóxicos ao consumidor”.

Antonio Avair Alves Martins é agricultor e preside a AAZL, associação localizada em São Mateus e que conta com 40 cooperados empenhados no cultivo de orgânicos e plantas alimentícias não convencionais (Panc’s).

“Quem compra nossos produtos, em nossa sede ou no Instituto Feira Livre, tem o selo de qualidade de não uso de agrotóxicos, e paga mais barato”, afirmou. Ele chegou a São Paulo em 1958, vindo do Ceará em busca de melhores condições de vida, e foi cultivando de forma sustentável que garante até hoje o sustento da sua família.

Martins afirmou que os agricultores da AAZL cultivam, em pequenas áreas, hortaliças e frutas, por terem um ciclo curto e propiciar rápida renovação dos canteiros. No entanto, a cada dia, segundo o agricultor, surge a necessidade de ampliar a produção diversificando os cultivos, como por exemplo as Panc’s. “Cultivamos alface, cebolinha, couve, abacate, acerola, ora pro nobis entre outros. Cada alimento é isento de pesticidas”, garantiu.

 CONHEÇA:

@INSTITUTOFEIRALIVRE

@COOPERAPAS

@AGRICULTORESZONALESTE

O OLHAR DA CF 2023 PARA A AGRICULTURA FAMILIAR

Entre os objetivos específicos da Campanha da Fraternidade 2023 está o de “estimular iniciativas de agricultura familiar agroecológica e a produção de alimentos saudáveis”.

–  “A presença das pequenas propriedades permite maior diversificação da produção agrícola para o consumo, além da movimentação econômica local” (texto-base CF 2023, nº 47).

– “Precisa ser valorizada a agricultura familiar, pois ali se opera a resistência à fome” (nº 48).

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