Há 14 anos, Frei Galvão era proclamado santo

Canonização de Frei Galvão (foto: Douglas Mansur/Região Episcopal Sé)

Há 14 anos, Santo Antônio de Sant’Anna Galvão foi canonizado pelo Papa Bento XVI, na histórica missa celebrada no Campo de Marte, na zona Norte de São Paulo, em 11 de maio de 2007, durante a visita feita ao Brasil por ocasiãoda abertura da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho, realizada em Aparecida (SP).

Nascido em Guaratinguetá (SP), em 1739, filho de Antônio Galvão de França e Izabel Leite de Barros, Frei Galvão cresceu num ambiente profundamente religioso. Aos 13 anos, foi enviado para estudar no Seminário da Companhia de Jesus, dos Padres Jesuítas, na cidade de Belém de Cachoeira (BA). Aos 21 anos, ingressou no noviciado da Ordem dos Frades Menores, no Rio de Janeiro. No ano seguinte, fez a profissão solene dos votos religiosos, sendo ordenado sacerdote em 11 de julho de 1762.

ACESSE:
Galeria de imagens da Canonização de Santo Antônio de Sant’Anna Galvão

Intrépido pastor

Depois de ordenado, Frei Galvão foi enviado para o Convento de São Francisco, em São Paulo, para aperfeiçoar os estudos e praticar o apostolado. E foi no apostolado que o franciscano começou a destacar-se por suas virtudes e empenho pastoral, em um período em que a liberdade religiosa era muito ameaçada pelo Império.

“Essa época era fortemente demarcada pela presença do Marquês de Pombal, cuja filosofia política era profundamente marcada pelo iluminismo. Nada podia se multiplicar na Igreja sem o aval do governo, como nomeações de bispos, abertura de vagas nos seminários para a formação de novos padres. Tudo era controlado pela Coroa”, explicou, ao O SÃO PAULO, o Padre José Arnaldo Juliano, historiador e capelão do Mosteiro da Luz. Foi o Marquês de Pombal que, em 1759, expulsou os jesuítas do Brasil.

No âmbito social e político. “Ele chegou a ser, inclusive, membro da Academia Paulista de Letras”, recordou o Capelão. “Frei Galvão proclamava o Evangelho não apenas na palavra, mas, na prática. Ele era totalmente à frente de seu tempo”, acrescentou o Padre.

Recolhimento da luz

Designado confessor do Recolhimento Santa Teresa, em 1770, o franciscano conheceu Irmã Helena Maria do Espírito Santo, religiosa de profunda oração e grande penitência, que afirmava ter visões pelas quais Jesus lhe pedia para fundar  um  novo  Recolhimento, isto é, uma casa onde mulheres viviam de maneira comunitária, dedicando-se à oração, sem, no entanto, professarem os votos religiosos, uma vez que o Marquês de Pombal não permitia fundações de casas religiosas.

Após estudar tais mensagens e discerni-las com o auxílio de pessoas sábias e esclarecidas, Frei Galvão fundou um recolhimento em 2 de fevereiro de

1774, dedicando-o a Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência. “Frei Galvão era sensível ao fato de que havia vocações e que o governo não podia obstruir seu florescimento”, explicou Padre José Arnaldo. Esse Recolhimento se tornou um mosteiro apenas em 1929, sendo incorporado à Ordem da Imaculada Conceição (concepcionistas).

Perseguições

No ano seguinte, Irmã Helena, tendo adoecido gravemente, morreu. Frei Galvão tornou-se, então, o único apoio para a comunidade. Nesse mesmo período, o novo capitão-general da Capitania de São Paulo, Martim Lopes Saldanha, obrigou o fechamento do Recolhimento. O Santo obedeceu a decisão. Porém, as recolhidas, que não tinham aonde ir, permaneceram escondidas na casa, confiantes na providência divina. Um mês depois, graças à pressão do povo e do bispo local, o Recolhimento foi reaberto.

Durante 14 anos (1774-1788), Frei Galvão se empenhou pessoalmente na ampliação das instalações do Recolhimento, cujas vocações não paravam de crescer. Por outros 14 anos (1788-1802), dedicou-se à construção da igreja, inaugurada em 1802.

Em 1781, após defender um soldado que havia sido condenado à morte por uma pequena ofensa ao filho do Capitão-General, Frei Galvão foi transferido para o Rio de Janeiro por pressão das autoridades. A população, no entanto, se levantou contra a ordem, que acabou sendo revogada.

Defensor da Imaculada

Como bom franciscano, Frei Galvão era grande devoto de Nossa Senhora e propagador de sua imaculada conceição, que ainda não havia sido proclamada como dogma de fé, mas por séculos era difundida pelos frades. Tanto que os frades, ao professarem os votos, faziam um juramento de se empenharem na defesa da imaculada conceição da Virgem Maria.

De acordo com a biografia documentada que integra seu processo de canonização, a maturidade espiritual “franciscano-mariana” de Frei Galvão foi expressa por meio de sua consagração a Nossa Senhora como o seu “filho e escravo perpétuo”, feita em 9 de novembro de 1766.

Defensor da virgindade da Mãe de Jesus antes, durante e depois do parto, Frei Galvão difundiu essa convicção especialmente nas famosas pílulas confeccionadas e distribuídas pelas monjas do Mosteiro da Luz.

Certo dia, Frei Galvão foi procurado por um senhor aflito, porque sua mulher estava em trabalho de parto e em perigo de morte. O Frade escreveu em três papeizinhos o versículo do Ofício da Santíssima Virgem – Pos partum Virgo, Inviolata permansisti: Dei Genitrix intercede pro nobis (Depois do parto, ó Virgem, permaneceste intacta: Mãe de Deus, intercedei por nós) – e entregou ao homem. Após a esposa dele ingerir as pílulas, o parto ocorreu normalmente. Caso idêntico aconteceu com um jovem que sentia fortes dores provocadas por cálculos na vesícula.

Morte

O fim de sua vida foi no Recolhimento da Luz, depois de obter autorização de seus superiores, devido ao fato de não ter mais forças físicas para se deslocar diariamente do Convento Franciscano para atender às religiosas. Ele passou a morar em um cômodo no fundo da igreja, atrás do sacrário até sua morte, em 23 de dezembro de 1822.

Na homilia da canonização de Frei Galvão, o Papa Bento XVI afirmou que a fama da sua imensa caridade não tinha limites: “Pessoas de toda a geografia nacional iam ver Frei Galvão, que a todos acolhia paternalmente. Eram pobres, doentes no corpo e no espírito que lhe imploravam ajuda”.

(Com informações da Ordem dos Frades Menores)

Igrejas dedicadas a Santo Antônio de Sant’Anna Galvão na Arquidiocese de São Paulo:

Igreja Santo Antônio de Sant’Anna Galvão (Avenida Tiradentes, 676, Luz)

Comunidade Frei Galvão (Rua Miguel Ferreira de Melo, 26, Jardim Santo André)

Comunidade Santo Antônio de Sant’Anna Galvão (Rua Cosme Damião da Cunha, Viela 1 / N° 110, Jardim Guarani)

Comunidade Santo Antônio Frei Galvão (Rua Luís de Oliveira Bulhões , 570 ,Jardim Daysy)
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