Padre brasileiro desenvolve projeto de reciclagem de lixo urbano no Haiti

Menos de 13% do total de lixo produzido em Porto Príncipe é coletado atualmente pelo serviço metropolitano de eliminação de resíduos sólidos. Ruas e áreas públicas em toda a região ao redor da capital do Haiti estão permanentemente tomadas pelo lixo.

A situação afetou o Padre capuchinho Aldir Crocoli, nascido no Brasil, desde que chegou ao país caribenho como missionário, no início de 2017.

“Eu tinha acabado de começar a estudar a encíclica Laudato si‘, do Papa Francisco, com um grupo de irmãos franciscanos. Imediatamente, pensei que deveria fazer algo com todo aquele lixo”, afirmou.

Durante férias no Brasil, ele conheceu uma máquina de reciclagem que transformava resíduos plásticos em tijolos de construção.

“Percebi que um programa de reciclagem seria uma boa solução para o lixo de Porto Príncipe. Pouco depois, apresentei a ideia à família franciscana do Haiti e em maio de 2018 já tínhamos feito um projeto”, disse Padre Crocoli.

A ideia do padre é coletar pelo menos em torno de 1,2 mil quilos de material plástico todos os dias. Uma equipe de até 100 pessoas receberá sacolas para recolher o lixo nas ruas, que será levado para uma central de armazenamento duas vezes por semana.

Estrutura

Oito triciclos adaptados e um caminhão ajudarão a coletar os resíduos e levá-los à usina de reciclagem, onde serão triturados e combinados com aditivos para formar não tijolos, mas telhas.

“Não poderíamos competir comercialmente com os tijolos vendidos no mercado local em termos de preço – e isso é importante, porque o projeto tem que se financiar para ser sustentável”, disse o Padre.

O Sacerdote explicou que muitas casas em Porto Príncipe têm telhado de zinco, o que as torna muito quentes. Os materiais metálicos, continuou ele, não são uma solução durável perto da costa, uma vez que não são resistentes à corrosão.

“Não há fabricação de fibrocimento ou telhas de cerâmica aqui. As telhas de plástico têm a vantagem de reduzir em 40% o calor dentro de casa e têm grande durabilidade ”, acrescentou.

Ele também disse que nenhum produto químico será adicionado ao plástico, apenas minerais.

O Padre visitou diferentes fábricas no Brasil para selecionar a melhor máquina para o projeto. Ele e seus colegas passaram um ano inteiro tentando encontrar um lugar para montá-la, sem nenhum dinheiro para financiá-la. Ao mesmo tempo, eles apresentaram o projeto a várias agências de financiamento em potencial.

“Em meados de 2019, finalmente conseguimos arrendar uma área da conferência dos bispos haitianos, e o episcopado italiano financiou as máquinas”, disse o Presbítero.

Dificuldades e expectativas

Embora tudo parecesse estar dando certo para os capuchinhos no início de 2020, a iniciativa ainda não foi lançada. A pandemia de COVID-19 teve impacto de diferentes maneiras.

As máquinas ficaram presas no porto durante meses e as agências internacionais que financiariam os outros elementos do projeto, como o caminhão e os triciclos, tiveram que redirecionar seu dinheiro para ajudar as vítimas do coronavírus.

“Fomos forçados a interromper a implementação e buscar novos fundos”, confirmou o Padre.

No entanto, Padre Justin Philippe, que também está trabalhando no projeto, está confiante de que ele acabará se tornando uma realidade.

“Há inúmeros benefícios. Vai ajudar muita gente que está desempregada agora, além de ajudar a limpar a cidade, que hoje é um mar de plástico”, disse.

De acordo com o Padre Philippe, a Igreja tem um papel a cumprir quando se trata de aumentar a consciência ecológica das pessoas.

“Temos maltratado nossa casa comum. É hora de nos conscientizarmos sobre isso e mudarmos a maneira como fazemos as coisas ”, disse ele.

O projeto do Padre Crocoli inclui um esforço para educar e aumentar a conscientização sobre a reciclagem entre crianças em idade escolar. Materiais foram preparados para ensinar os alunos sobre o processo de reciclagem, incluindo vídeos sobre a planta e as máquinas.

“Fizemos convênio com oito escolas locais. Os alunos levarão lixo plástico de suas casas para a escola. Vamos coletar e pagar às escolas o material ”, disse ele. “Algo semelhante será feito nas paróquias e entre as congregações e comunidades religiosas”, acrescentou Padre Philippe.

Fonte: Crux Now

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