Uma obra nascida no coração de um ‘apóstolo da comunicação’

Bem-Aventurado Tiago Alberione, sacerdote italiano e fundador da Família Paulina em 1914 (foto: Pia Sociedade de São Paulo/Arquivo)

Durante uma adoração ao Santíssimo Sacramento, na noite que dividia os séculos XIX e XX, em 31 de dezembro de 1900, um jovem seminarista de 16 anos ouviu em seu interior um forte apelo de Cristo.

Da hóstia consagrada, uma “luz especial” veio ao seu encontro e o fez compreender melhor o convite de Jesus: “Vinde a mim todos” (Mt 11, 28). A partir daquele momento, ele se sentiu “profundamente comprometido a fazer alguma coisa para o Senhor e para as pessoas do novo século, o compromisso de servir à Igreja”, valendo-se dos novos meios colocados à disposição pelo engenho humano.

Assim nasceu no coração do Bem-Aventurado Tiago Alberione (foto) o carisma que deu origem à Família Paulina. Sua oração diante do Santíssimo durou quatro horas. Nela, o jovem pedia que o novo século nascesse em “Cristo-Eucaristia, que novos apóstolos saneassem as leis, as escolas, a literatura, a imprensa, os costumes; que a Igreja tivesse um novo impulso missionário; e os novos meios do apostolado fossem usados bem”.

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Vocação

Nascido em San Lorenzo di Fossano, no norte da Itália, no dia 4 de abril de 1884, Tiago era o quarto dos seis filhos do casal Miguel e Teresa Allocco, uma família pobre do meio rural.

Desde cedo, o pequeno Tiago sentia o chamado de Deus ao sacerdócio. Quando ainda estava na 1ª série do Ensino Primário, ao ser perguntado pela professora o que faria quando crescesse, ele respondeu: “Vou tornar-me padre!”. Ele ingressou no seminário da Diocese de Alba aos 16 anos.

Após sua ordenação sacerdotal, em 1907, Alberione desempenhou ofícios em paróquias e no seminário da Diocese. Enquanto isso, amadurecia o chamado especial suscitado por Deus na adolescência. Para ele, o carisma paulino só se desenvolveu porque seguia uma “dupla obediência: inspiração aos pés de Jesus-Hóstia, confirmada pelo Diretor Espiritual; e a vontade expressa dos superiores eclesiásticos”.

Fundação

Em 1913, a pedido do seu bispo, Alberione assumiu a direção do jornal diocesano Gazzetta D’Alba. Isso veio ao encontro do seu ideal de evangelizar e fazer o bem com os meios que atingissem não só as pessoas que frequentavam as igrejas, mas também as que estavam distantes.

Desse modo, no dia 20 de agosto de 1914, Padre Alberione dava início à “Família Paulina” com a fundação da Pia Sociedade São Paulo (Paulinos).

Desde o início, Alberione desejava confiar a nova obra à proteção de São Paulo, que, ao mesmo tempo, era um modelo de santidade de vida e de apostolado. “Todos devem considerar só São Paulo Apóstolo como pai, mestre, modelo e fundador. Ele o é de fato. Por ele, a Família Paulina nasceu; ele a ali- mentou e fê-la crescer; dele aprendeu o espírito”, escreveu Alberione.

Família

Ao fundar essa instituição religiosa, Alberione se inspirou na experiência da família humana, constituída de irmãos e irmãs. Assim, no ano seguinte, reuniu um grupo de jovens moças, lideradas pela Irmã Teresa (Tecla) Merlo, e fundou a Pia Sociedade das Filhas de São Paulo (Paulinas).

“A Família Paulina aspira a viver plenamente o Evangelho de Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida, no espírito de São Paulo, sob o olhar de Maria, Rainha dos Apóstolos.”

Aos poucos, essa família começou a crescer. Além dos Paulinos e Paulinas, Alberione também é fundador de outras três congregações femininas: as Pias Discípulas do Divino Mestre, em 1924, para o apostolado eucarístico, sacerdotal e litúrgico; as Irmãs de Jesus Bom Pastor (Pastorinhas), em 1938, que se dedicam ao apostolado pastoral nas paróquias e comunidades; e o Instituto Rainha dos Apóstolos (Apostolinas), em 1959, voltadas para o apostolado do despertar e da animação vocacional.

Padre Alberione abençoa equipamentos de uma das gráficas da congregação (foto: Pia Sociedade de São Paulo/Arquivo)

Desde o início, os leigos estiveram presentes. Por isso, em 1917, fundou a Pia União dos Cooperadores da Boa Imprensa, que, posteriormente, se tornou a Associação dos Cooperadores Paulinos. Em 1960, Padre Alberione fundou quatro institutos seculares: São Gabriel Arcanjo (Gabrielinos) e Nossa Senhora da Anunciação (Anunciatinas), para leigos consagrados; Sagrada Família, para casais, voltado para a santificação conjugal e familiar; e Jesus Sacerdote, destinado a padres diocesanos que aspiram a viver a espiritualidade paulina em seu ministério.

Hoje, a Família Paulina é constituída por dez organizações religiosas e leigas, aos quais o Fundador se referia como os ramos de uma grande árvore, presente nos cinco continentes.

Apostolado

No âmbito apostólico, a Família Paulina promove a difusão do Evangelho por meio da comunicação social.

No início, além do trabalho nas tipografias, os paulinos e paulinas faziam o apostolado da difusão, de porta em porta para vender Bíblias, livros catequéticos e seus periódicos, como a revista Família Cristã. Para isso, as religiosas paulinas estão entre as primeiras mulheres a dirigir automóveis e a pilotar as pequenas motocicletas “vespas” na Itália. Elas podiam ser vistas em missão, com seus longos hábitos, pelas ruas e estradas.

Sobre as livrarias, até hoje os grandes centros apostólicos da Família Paulina, o fundador as descrevia como verdadeiros “templos”, enquanto o livreiro é um “pregador” e o balcão de atendimento, “um púlpito de verdade”.

Humilde e incansável

Padre Alberione morreu em 26 de novembro de 1971, aos 87 anos, horas após receber a visita e a bênção de São Paulo VI, que jamais ocultou a sua admiração e veneração por ele. Em uma audiência concedida à Família Paulina em 1969, o Pontífice disse:

“Aí está ele: humilde, silencioso, incansável, sempre vigilante, sempre entretido com os seus pensamentos, que se mobilizam entre a oração e a ação, sempre atento para perscrutar os ‘sinais dos tempos’, isto é, as mais geniais formas de alcançar as pessoas. O nosso Padre Alberione deu à Igreja novos instrumentos para se manifestar, novos meios para dar vigor e amplitude ao seu apostolado, nova capacidade e nova consciência da validade e da possibilidade da sua missão no mundo moderno e com os meios modernos”.

Em 1974, o mesmo Papa se referiu ao fundador paulino como “uma das maravilhas” do século XX, fazendo alusão ao título do decreto conciliar sobre a comunicação social Inter Mirifica.

Beatificação do Padre Tiago Alberione, em 27 de abril de 2003 (reprodução da internet)

Beatificação

Padre Alberione foi beatificado por São João Paulo II em 27 de abril de 2003, na Praça São Pedro. Na ocasião, o Santo Padre afirmou que o Bem-Aventurado deixava uma “formidável herança” à Família Paulina.

“O Beato Tiago Alberione intuiu a necessidade de dar a conhecer Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida, ‘aos homens do nosso tempo com os meios do nosso tempo’, como gostava de dizer, e inspirou-se no Apóstolo Paulo, o qual definia ‘teólogo e arquiteto da Igreja’, permanecendo sempre dócil e fiel ao Magistério do Sucessor de Pedro, ‘farol’ de verdade em um mundo muitas vezes privado de referências ideais firmes. ‘Haja um grupo de santos que usa estes meios’, gostava de repetir este apóstolo dos tempos novos”, disse o Santo Padre.

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