Sínodo: ‘O Papa convida a Igreja a se tornar na vida e na ação aquilo que ela é por natureza’

Afirmou o Cardeal Odilo Pedro Scherer, em entrevista ao semanário da Arquidiocese de São Paulo

Cardeal Odilo Scherer (foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

Na quinta e última parte da entrevista exclusiva concedida ao jornal O SÃO PAULO, o Cardeal Odilo Pedro Scherer falou sobre o caminho sinodal universal proposto pelo Papa Francisco.

O Arcebispo de São Paulo ressaltou que o Santo Padre convida toda a Igreja voltar-se cada vez mais para as características essenciais de sua natureza: comunhão, participação e missão.

Dom Odilo também aproveitou a ocasião para saudar os fiéis da Arquidiocese de São Paulo pelo início do novo ano.

Ouça o trecho da entrevista:

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Quanto ao Sínodo universal, qual é o principal objetivo dessa iniciativa do Papa?

O Papa está chamando toda a Igreja a participar do Sínodo, que terá o seu momento alto em outubro de 2023 com a Assembleia do Sínodo dos Bispos, em Roma. Temos dois anos de caminho sinodal, com diversos momentos, desde o nível mais básico nas paróquias, dioceses e organizações eclesiais. Depois serão as conferências episcopais, os organismos nacionais e continentais da Igreja e, finalmente, a Assembleia do Sínodo dos Bispos.

O Papa não fala tanto de sinodalidade, mas ‘Igreja sinodal’, como vem explicitado no tema do sínodo: “Por uma Igreja Sinodal – Comunhão, Participação e Missão”. Essas três características fundamentais da Igreja não são novas, mas permanentes, que já encontramos no Novo testamento e na Patrística. A elas, a Igreja volta sempre que se faz necessário retomar a consciência de si própria. Assim aconteceu em cada grande Concílio, e não foi diferente no Concílio Vaticano II e depois dele. Como exemplo, a Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe em Puebla, em 1979, já teve esse tema: “Igreja, Comunhão e Participação”. A questão ‘missão’ não ficou esquecida, mas estava incluída na ‘participação’. O Papa chama a Igreja a um processo de conversão, o que também já está presente no Concílio Vaticano II e nos documentos pós-conciliares. O Documento da Conferência de Aparecida e a exortação apostólica pós-sinodal Evangelii gaudium voltaram de maneira incisiva a esse tema. A Igreja precisa converter-se mais e mais àquilo que ela deve ser pela sua natureza e pela vontade de Jesus Cristo, seu fundador.

Uma Igreja-comunhão não é uma Igreja dividida, de partidos e antagonismos que dividem, mas de unidade e fraternidade, segundo o fundamento da comunhão e da sua unidade em Cristo e na Trindade Santa. A Igreja-participação é formada de todos os membros batizados, e não apenas de clérigos. Todos os batizados têm parte na vida e missão da Igreja, cada um a seu modo, com seu dom próprio. Nem todos são padres, ou missionários que partem para a África. Nem todos pregam no púlpito das Igrejas. Mas todos os batizados têm a sua parte na missão na Igreja. E, como o Papa diz, o Espírito Santo conduz e anima a Igreja e precisamos todos estar atentos ao Espírito, para vivermos essas dimensões também em nosso tempo. O que o Papa propõe está no âmago do ensinamento sobre a Igreja. Ele está chamando a Igreja a se tornar na vida e na ação aquilo que ela é por natureza: “Igreja, torna-te o que tu és”.

Que mensagem o senhor deixa para os fiéis da Arquidiocese no início deste novo ano?

Desejo para todo o nosso povo um feliz ano novo e que a benção de Deus acompanhe cada um todos os dias. Comecemos o ano na esperança e na confiança em Deus. Não será por alguma ação mágica que vamos encontrar a solução para os problemas do dia a dia. É na confiança em nós mesmos, no trabalho, na solidariedade, na fraternidade, na atenção recíproca e na confiança em Deus, sabendo que Ele não nos abandona em nenhum momento. Sua graça nos dá aquela força que precisamos a cada momento da vida. Portanto, desejo a todos a bênção de Deus todos os dias do novo ano! O ano tem 365 dias: Comecemos bem pelo primeiro, continuemos bem pelo segundo e, assim, chegaremos bem até o último dia deste novo ano.

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