‘Na Eucaristia, Deus se aproximou tanto de nós que nunca devemos nos sentir abandonados’

Afirmou o Decano do Colégio Cardinalício, durante a Missa da Ceia do Senhor, na Basílica de São Pedro

Cardeal Giovanni Battista Re preside Missa da Ceia do Senhor, na Basílica Vaticana (Reprodução de Vatican Media)

O Solene Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, foi aberto no Vaticano com uma missa na Basílica de São Pedro, com a Missa da Ceia do Senhor, na tarde desta Quinta-feira Santa, 1º.

A celebração que recorda a instituição da Eucaristia e do sacerdócio católico, foi presidida pelo Cardeal Giovanni Battista Re, Decano do Colégio Cardinalício. Na manhã desta quinta-feira, também na Basílica Vaticana, o Papa Francisco presidiu a Missa do Crisma, reunindo o clero da Diocese de Roma.

Devido às medidas restritivas impostas pelas pandemia de COVID-19, a celebração contou apenas com a presença de alguns cardeais e bispos em um grupo reduzido de fiéis. Também por causa da emergência sanitária, assim como no ano passado, não foi realizado o rito do lava-pés, em recordação do gesto de Jesus na última ceia.

Amou até o fim

O Cardeal Re iniciou a homilia chamando a atenção para o versículo bíblico: “Jesus sabia que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai; tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”.

“‘Ele os amou até o fim’; esta comovente afirmação significa que os amou até à morte na cruz no dia seguinte, na Sexta-Feira Santa, mas também significa um amor ao extremo, isto é, ao mais alto e insuperável grau da capacidade de amar”, afirmou o Decano.

O Purpurado ressaltou, ainda, que a noite da Quinta-feira Santa recorda “o quanto fomos amados”. “Diz-nos que o Filho de Deus, na sua afeição por nós, não nos deu algo, mas deu-nos a si mesmo – o seu corpo e o seu sangue – isto é, a totalidade da sua pessoa, e que, para a nossa redenção, aceitou sofrer a morte mais vergonhosa oferecendo-se como vítima: ‘Ninguém me tira a vida, mas eu a ofereço de mim mesmo’ (Jo 10,18)”, acrescentou.

(Foto: Vatican Media)

O dom mais precioso

O Cardeal Re salientou que a existência da Eucaristia só se explica porque Cristo amou a humanidade e quis estar perto de cada pessoa durante todos os séculos, até o fim do mundo. “Somente um Deus poderia conceber um presente tão grande e somente poder e amor infinitos poderiam realizá-lo”, afirmou.

O Decano do Colégio Cardinalício assinalou que a Igreja sempre considerou o sacramento da Eucaristia como o dom mais precioso com que se enriqueceu. “É o dom pelo qual Cristo caminha conosco como luz, como força, como alimento, como suporte em todos os dias da nossa história”, disse, lembrando, ainda, que o Concílio Vaticano II definia esse sacramento como “o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte da qual emana toda a sua força”.

“A Eucaristia é o centro e o coração da vida da Igreja. Deve ser também o centro e o coração da vida de cada cristão”, completou o Purpurado, reforçando que esse sacramento é uma realidade não só para se acreditar, mas para ser vivida. “A Eucaristia é um apelo à abertura ao próximo, ao amor fraterno, a saber perdoar e a socorrer os que estão em dificuldade; é um convite à solidariedade, ao apoio mútuo, a não abandonar ninguém; é um apelo ao empenho laborioso pelos pobres, pelos sofredores, pelos marginalizados; é luz reconhecer o rosto de Cristo no rosto dos irmãos, especialmente dos feridos e mais necessitados”.

Verdadeiro Sacerdote

O Cardeal também recordou que nessa celebração se recorda a instituição do sacerdócio católico.

“Cristo, o verdadeiro sacerdote, disse aos Apóstolos: ‘Fazei isto – isto é, o sacramento da Eucaristia – em memória de mim’. E três dias depois, na noite do Domingo de Páscoa, disse também aos Apóstolos: ‘Recebei o Espírito Santo. Aqueles cujos pecados você perdoa serão perdoados ‘(Jo 20,23). Assim, Cristo irradiou poderes sacerdotais sobre os apóstolos, para que a Eucaristia e o Sacramento do Perdão continuassem a ser renovados na Igreja; deu à humanidade um presente incomparável”, afirmou.

Pandemia

O Decano destacou que nos anos anteriores, após a Missa da Ceia do Senhor, era tradição estender a adoração da Eucaristia durante toda a noite com várias iniciativas de oração de adoração e momentos de grande intensidade religiosa. “A dramática situação criada pela COVID-19 e o risco de contágio infelizmente este ano não o permitem, como aconteceu no ano passado”, lamentou.

(Reprodução de Vatican Media)

“No entanto, voltando para nossas casas, devemos continuar a orar com pensamentos e corações cheios de gratidão por Jesus Cristo, que desejou permanecer presente entre nós como nossos contemporâneos sob os véus do pão e do vinho”, acrescentou o Cardeal.

Ainda segundo Purpurado, é de Jesus, que viveu o sofrimento físico e a solidão na carne e na alma, que os cristãos devem tirar a força de que precisam, “agora mais do que nunca, para enfrentar os grandes desafios desta pandemia que mata milhares de vítimas todos os dias, em todo o planeta”.

Amizade e traição

Por fim, o Decano recordou que a noite que vê a maior manifestação de amor e amizade por nós é também a noite da traição. “O amor de Deus e a traição do homem se enfrentaram em torno da mesma mesa no Cenáculo. São Paulo sublinha isso na segunda leitura da Missa: ‘na noite em que foi traído’.

Na história do amor sem limites de Cristo, que nos amou ‘até o fim’, está a amargura da traição e da traição humana”, destacou.

“Na Eucaristia, Deus se aproximou tanto de nós que nunca devemos nos sentir abandonados, porque somos sempre procurados por Ele, amados e convidados a obter com o arrependimento e o Sacramento da Reconciliação a alegria do seu perdão e a iniciar uma recuperação espiritual com o coração mais aberto a Deus e a todos os nossos irmãos e irmãs”, concluiu o Cardeal Re.

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